* Mariana da Cruz Mascarenhas – Rio 2016: Um desfile de sorrisos, raças e culturas formam uma grande unidade na diversidade, marcada por um traço em comum: a hospitalidade e motivação que tanto nos caracterizam. Nós, povo brasileiro, que, em meio às adversidades, jamais perdemos o fôlego para seguirmos atrás de nossos sonhos, sem desistir.
Já somos mais de 210 milhões de cidadãos neste país que mais se assemelha a um continente, dada a sua heterogeneidade, justamente o elemento essencial para a riqueza desta nação. E, ao menos sob a perspectiva esportiva, o Brasil ainda não havia concentrado tantos olhares do mundo todo para si, como neste momento em que sedia as Olimpíadas de 2016.
Desde o dia 6 de agosto de 2016, o planeta parou para conhecer melhor esta nação cujas qualidades vão muito além do futebol, carnaval e sampa no pé. E, logo na cerimônia de abertura, surpreendemos o mundo com o espetáculo de cores, sons e efeitos apresentados, seguidos pelas visitas às instalações olímpicas que nos dão a dimensão de construções futurísticas. Mas bastou a chama da pira se apagar para que se apagasse também parte da empolgação, especialmente midiática, por conta dos jogos. Mas as competições não terminaram; pelo contrário, recomeçaram no dia 7 de setembro com a estreia dos Jogos Paralímpicos.
Todavia, ao contrário dos Jogos Olímpicos, as competições disputadas por atletas com deficiências ganharam uma repercussão muito menor para insatisfação de muitos brasileiros, que contestaram tal fato, como a não transmissão da abertura dos jogos pelos principais canais da TV aberta. E se lamentaram com razão, afinal não se tratam de atletas com mais ou menos qualidades, mas sim seres humanos como todos nós e que, por sinal, têm muito a nos ensinar.
Eu tive a honra de participar da abertura e de alguns jogos da Paralimpíada e posso afirmar categoricamente que vivi uma das melhores experiências da minha vida. A começar pela abertura: nos segundos iniciais, o cadeirante norte-americano Aaron Wheelz desceu uma megarampa, erguida no Maracanã, passando por dentro de um círculo de fogo. Uma dançarina norte-americana que teve as pernas amputadas, Amy Purdy, também emocionou com uma incrível apresentação de balé. Dois dançarinos cegos foram levados pelo som da música numa coreografia perfeita, formada graças aos toques entre eles. Bengalas luminosas se espalharam pelo gramado do Maracanã formando um grande olho e enfatizando os demais sentidos aguçados de um deficiente visual.
E como não se comover com a ex-atleta Márcia Malsar, uma senhora, que entrou no estádio segurando a tocha e, se apoiando em sua bengala, se desequilibrou e caiu, levantando-se rapidamente sob gritos e aplausos de um Maracanã lotado, na maior manifestação de incentivo, típica do brasileiro? Sentir tal calor humano em tamanho gesto de bondade me arrancou lágrimas – assim como no momento em que a bandeira paralímpica foi levada por crianças com paralisia cerebral, as quais deixaram a cadeira de rodas e entraram caminhando no estádio, graças a um colete de neoprene e uma bota especial de lona que prende os seus pés aos de seus pais .
No dia seguinte aconteceu a largada para uma série de competições paralímpicas. O Parque Olímpico, por exemplo, onde estive presente, está sendo palco de tantas superações, lutas, vitórias… Que exemplos para levarmos conosco no dia a dia. Atletas que não se abalam com suas dificuldades e trazem consigo um sorriso estampado no rosto, o qual nos dá um “tapa”, por muitas vezes reclamarmos de tantas futilidades, transformando-as em tempestades. Competidores que, muitas vezes, precisaram vencer a falta de apoio, patrocínio e incentivo, porém não desistiram.
Por isso, a falta de maior crédito midiático chega a ser um desrespeito com estes atletas. Mas o que me consola é o calor do povo brasileiro lotando as arenas para prestigiar esses heróis, esse calor que ajudou a ex-atleta a se levantar rapidamente na abertura e que me dá orgulho de ser brasileira.
Moramos num país que tem jeito, sim, e se fatores como a mentira, a corrupção ou o jeitinho brasileiro nos abalam, lembremos que juntos somos mais fortes e podemos reverter este cenário, pois eu acredito no povo brasileiro, eu acredito na força que ele tem.
A vontade de quem incentivou Márcia Malsar a se levantar da queda certamente pode ser a mesma para ajudar nossa nação a se recuperar de um tombo – uma cena que levarei comigo para sempre e sou muito grata por ter vivido esse momento ao vivo.
Frase:
Ganhar uma medalha paralímpica no seu país é uma sensação incrível. Estou muito feliz!
Odair Santos, atleta brasileiro, ao ganhar a primeira medalha brasileira nas Paralimpíadas Rio 2016, prata, ao chegar em segundo lugar nos 5 mil m na classe T11, para deficientes visuais totais
JOGO RÁPIDO
OURO NO REVEZAMENTO 4 x 100
- Com direito a recorde paraolímpico, o Brasil conquistou o ouro no revezamento 4×100 m da classe T11-T13 (para atletas com deficiência visual) ao dominar a final desta terça-feira nos Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro, no Engenhão. Os atletas Diogo Jerônimo da Silva, Gustavo Araújo, Daniel Silva (com o guia Heitor Oliveira Sales) e Felipe Gomes (com o guia Jonas Silva) completaram a prova em 42s37 superando a China, que se atrapalhou na passagem do bastão e ficou com a prata com 43s05. O Uzbequistão acabou com o bronze (43s47). O recorde paraolímpico anterior pertencia à equipe russa em Londres-2012 (42s66), que não está no Rio de Janeiro por conta do banimento do país do evento por causa do escândalo de doping. Os russos também ostentam o recorde mundial, conquistado em 2015: 42s11.
ELIMINADA
- A corredora brasileira Terezinha Guilhermina nem chegou a competir com as adversárias na final dos 200 metros rasos classe T11. Nesta terça-feira, a brasileira queimou a largada, foi desclassificada e perdeu a chance de conquistar o tricampeonato paraolímpico da prova. A britânica Libby Clegg venceu a prova. A atleta brasileira voltou a ser desclassificada depois de ficar sem medalha nos 100 metros rasos. Terezinha, na ocasião, acabou fora da disputa após a organização apontar ajuda do guia – ela havia terminado a prova na quarta posição.
RECORDE DE BILHETERIA
- O Comitê Organizador do Rio-2016 anunciou que os Jogos Paraolímpicos devem bater a meta de 2 milhões de ingressos vendidos, de um total de 2,5 milhões disponibilizados ao público. Este montante deve ser alcançado até a quinta-feira, 15, dado que o evento registra uma média de 40 mil bilhetes comercializados por dia. Até as 10h da manhã desta terça-feira, 13, 1,96 milhão foram vendidos, segundo a organização. Somente na segunda-feira, 12, um dia após o final de semana em que o Parque Paraolímpico registrou recorde de público, foram adquiridas 60 mil entradas. Esses números fazem dos Jogos do Rio a segunda edição em quantidade de público na história das Paraolimpíadas, atrás apenas de Londres-2012, com 2,8 milhões de ingressos comercializados.
PRIMEIRA MEDALHA
- Evanio da Silva conquistou uma medalha histórica para o Brasil nesta terça-feira. Ele levantou 210 quilos e ficou com a prata no levantamento de peso para atletas de até 88 quilos. De acordo com o Comitê Paralímpico Brasileiro, esse foi o primeiro pódio do levantamento de peso brasileiro tanto nos Jogos Olímpicos como Paraolímpicos. O brasileiro levantou a mesma quantidade de Sodnompiljee Enkhbayar, da Mongólia, mas nos critérios de desempate (peso do atleta), Evanio levou a melhor.
SALTO DE PRATA
- O saltador brasileiro Mateus Evangelista, de 22 anos, faturou a medalha de prata na disputa do salto em distância, no início da tarde desta terça-feira, nos Jogos Paralímpicos do Rio. Ele competiu na categoria T37, para paralisados cerebrais, no Engenhão. A medalha assegurada por Mateus Evangelista veio em uma prova de alto nível, tanto que ele e o chinês Shang Guangxu quebraram o recorde mundial durante a final. E quem se deu melhor foi o asiático, que atingiu a marca de 6,77 metros na sua tentativa derradeira. Assim, ele conseguiu uma vantagem de 24 centímetros em relação a Mateus Evangelista, medalha de prata ao atingir 6,53m. Já o paquistanês Haider Ali completou o pódio, em terceiro lugar, com a marca de 6,28m.
TÊNIS DE MESA FEMININO GANHA MEDALHA
- O tênis de mesa do Brasil conquistou uma medalha de bronze na Paralimpíada do Rio nesta terça-feira. Bruna Costa Alexandre venceu a disputa do terceiro lugar da classe 10 diante da dinamarquesa Sophie Walloe por 3 sets a 0, com parciais de 11/2, 13/11 e 11/8, e subiu no pódio do Pavilhão 3 do Riocentro. Além de garantir o bronze, Bruna entrou para a história como a primeira mulher brasileira a conseguir uma medalha no tênis de mesa dos Jogos Paralímpicos. Luiz Algacir e Welder Knaf, em Pequim-2008, e Israel Stroh, no Rio, foram os outros paratletas do País a conseguirem o feito.
* Mariana da Cruz Mascarenhas é jornalista, e especialista em Comunicação Organizacional. Articulista e crítica de Economia e Cultura, já escreveu matéria do Vaticano, além de muitos outros trabalhos jornalísticos em São Paulo.
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