* Leandro Giudici – O país passa por uma das mais graves crises recentes de desemprego. Em qualquer canto da nação os efeitos são sentidos, de forma mais ou menos atenuante. Poucas situações podem ser mais dramáticas de que o desemprego. Suas consequências são trágicas para as famílias.
Os casos de depressão, por exemplo, aumentam vertiginosamente nestes períodos e até mesmo os tristes casos de suicídios aparecem com mais frequência. Ou seja, as falcatruas do alto dos palácios não tiram só dinheiro dos cofres públicos, eles tiram vidas na medida em que pacientes morrem em hospitais, em que o pão falta a mesa e de outros modos.
Cidades dependentes da agricultura, no interior do país, por incrível que pareçam, mesmo com seus orçamentos mais desnutridos acabam um pouco mais imunes à recessões como as que temos visto. É que a agricultura nunca para. Ela pode ter seus vilões periódicos, como o tomate, a batata e mais recentemente o feijão – item básico do cardápio brasileiro – que virou ‘salmão’ do dia para a noite, mas jamais é paralisada como a indústria automobilística, por exemplo.
Desde o início da industrialização brasileira, as grandes fábricas, empresas e indústrias preferiram se instalar nas cidades maiores, próximas à capital. De 20 anos para cá a rota se inverteu. Com o avanço da robotização que substituiu aos poucos a mão de obra humana e pela histeria dos sindicatos – por vezes irresponsáveis -, as fábricas começaram a migrar para o interior em busca de incentivos fiscais. No bucólico bairro da Mooca, na Capital, por exemplo, ficaram apenas as velhas chaminés, símbolo do que outrora representou progresso.
São Bernardo do Campo, uma das mais industrializadas cidades da América Latina sofreu uma mutação em poucas décadas. De cidade próspera entre a capital e o litoral, se tornou uma gigante metrópole, ainda com muitas qualidades, mas também estafada. Quem não encontrou o sonhado Eldorado passou a construir favelas, viu explodir sua demografia e concomitantemente o seu sistema de saúde, segurança, habitação, etc. Hoje, volta a ser notícia com o fechamento de várias empresas que não resistem à crise.
Isso quer dizer: nem lá nem cá. Não se pode confundir exatamente progresso, desenvolvimento com industrialização. Emprego é preciso, o Brasil todo sabe, mas nada disso é uma equação simples. Com juros menores e menos burocracia, os pequenos e médios empresários poderiam expandir seus negócios. Com capacitação, a mortalidade das empresas diminui, as pessoas passam a estarem preparadas para tocarem seus negócios, serem autônomas, donas de seus próprios destinos, menos vulneráveis a instabilidade da economia. Há também meios como o turismo, que como outros ramos, também sofre com a crise, mas atrai o capital externo.
A simples instalação de fábricas do conceito de muita gente pode representar um pesadelo à qualquer administrador público se não for planejada milímetro à milímetro e não representar quase nada aos moradores. Sem mão de obra específica, a empresa é obrigada a importar mão de obra, o que convenhamos, ninguém gosta. A sobrecarga em outros setores básicos dos municípios se implodem rapidamente aumentando ainda mais a dependência destas empresas para completar o orçamento. Vejam o caso de Mariana-MG que sofreu uma das maiores tragédias ambientais da história com a Samarco e mesmo assim não pode sequer imaginar a falência da empresa. É como depender eternamente do seu maior inimigo.
Há um leque de possibilidades que representam desenvolvimento sem imaginar velhas chaminés nos céus azuis e límpidos de cidades interioranas. O discurso do emprego costuma se condensar ainda mais nas épocas eleitorais, por isso, fique atento.
* Leandro Giudici é jornalista e comunicador de rádio. Contato com o colunista pelo e-mail leandrogiudici@hotmail.com
Nenhum comentário on "Velhas Chaminés"