* Maristela Prado – Se pararmos para pensar, carregamos vários “artigos” ao longo de nossa vida para sermos inseridos na sociedade. Precisamos ter um carro bonito, de preferência do ano, roupas, bolsas e sapatos de grifes famosas, viajar… Mas, claro, antes de conhecer o Brasil, nosso país lindo e imenso, com uma natureza exuberante, precisa constar em nosso currículo social mais países da Europa e América. Estar em todos os lugares badalados.
Para a mulher é muito mais complicado, pois, além de tudo isso, ainda temos de estar com corpo de artista, que tem photoshop, cabelo maravilhoso, pele linda e bem-sucedida.
Os homens também estão na era do corpo perfeito, definido. Como temos os metrossexuais, hoje. Homens que se cuidam como mulher. Cuidam da pele, tingem cabelo, fazem as mãos, depilam-se, alguns até tiram a sobrancelha. E tudo isso para quê? Para ser BEM aceito na sociedade, senão meu caro, você está fora dos padrões exigidos.
Esses artigos não fazem diferença nenhuma na pessoa que você é, no seu caráter. Podemos ver isso diariamente: pessoas infelizes e insatisfeitas consigo mesmas. Talvez você esteja apenas seguindo um ritual que não lhe agrada, mas não será muito bem-visto se não for esse modelo. Quanto cuidado exigido com aparência e nenhum com a mente! O mundo está acabando com o ser, nossa verdadeira identidade. Não se vive mais cada um no seu mundo; agora o mundo é um só e nós é que temos de estar aptos a entrar nele.
Lembro-me que na minha infância, até mesmo na adolescência, vivíamos muito bem, mas a vida era mais simples, éramos muito mais felizes. Não existiam
padrões, existiam pessoas diferentes, de famílias diferentes, posições sociais diferentes, mas éramos todos amigos. Não havia tanta diferença, cada um era feliz com o que era ou o que tinha. Hoje as crianças já são obrigadas a ter tudo o que o amiguinho tem, até os passeios não podem ser inferiores. Afinal, poder é tudo. Crescem aprendendo a competir, vendo insultos e indiferenças.
Como podemos ter uma geração saudável se a infância já nasce doente? A insatisfação é grande e abrangente. Cada vez mais temos pessoas com
depressão, estresse, pânico, doenças do século 21, doenças da impotência do ser, de inserir-se nessa sociedade louca. Hoje você conquista isso, e aquilo outro já faz parte da sua busca.
Novamente a corrida atrás do não sei o quê se inicia. Isso é uma bola de neve, sempre tem a próxima vez. Os artigos de luxo que necessitamos não acabam, ficamos escravos do desejo, dos nossos sentimentos. Eu não sou mais eu, minha identidade hoje é o que vou conquistar amanhã, o que será? Quem vou passar a ser?
* Maristela Prado é Bacharel em Letras e revisora de textos, casada e mãe dois filhos adultos. http://www.asletrasdavida.com/
Maristela, vc colocou de uma forma mais natural , verdadeira, quero acreditar que seja só um ciclo … Parabéns!!!