Sobre os pobres que ‘dormiam na cama de pau duro’ em São Bernardo

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Anchie5                    Com a Via Anchieta houve a divisão de bairros: do lado de cá e do lado de lá da via

* Marcelo Sarti – Assim como é costumeiro em vésperas de algumas datas comemorativas, como Natal, Carnaval, Festas Juninas, é costume comentar casos interessantes, pitorescos e hilários que ocorreram no passado. E no mundo político isso também acontece, e vem sempre muito mais apimentado do que o normal.

Para quem não é daquela época, nas décadas de 50 e 60, havia duas forças politicas na cidade. Uma defendia Lauro Gomes e outra apoiava Tereza Delta, que foi prefeita de São Bernardo por nomeação do então governador Ademar de Barros no período de 27/10/1947 a 1º/01/1948.

Por conta da amizade e influência que Tereza Delta tinha com o governador Ademar de Barros, ela conseguiu que fosse construído o viaduto do km 23 ligando o centro da cidade aos bairros Demarchi, Batistini, entre outros.

Com essa conquista, Tereza Delta, que era conhecida como defensora dos pobres e oprimidos, conseguiu o apoio de grande parte da população que foi beneficiada, e com isso o seu grupo político cresceu. Surgiram inclusive alguns candidatos a vereador que pretendiam defender a conquista de outras benfeitorias para os bairros ‘daquele lado’ da Via Anchieta.

É oportuno lembrar que boa parte dos moradores desses bairros tratavam os moradores do centro da cidade como ricos, não porque o centro da cidade fosse repleto de famílias ricas, nem eles eram os pobres. Simplesmente porque os do lado de lá Anchieta moravam em bairros que ainda não tinham sido contemplados com saneamento, asfalto, iluminação pública, entre outras benfeitorias. Mas esse detalhe administrativo provocou o que ficou convencionado de a eleição dos Pobres versus Ricos.

Certo dia, um dos candidatos a vereador do “lado dos pobres”, representante dos Demarchi e que deu início ao que hoje é conhecida como a Rota do Frango com Polenta, fez um discurso de improviso e inflamado, e se deixou levar pela emoção.

Ao falar para os moradores, em cima da carroceria de um caminhão, afirmou com todas as letras, para quem quisesse ouvir e sem se importar se dona Tereza Delta iria se importar com o seu comentário. Tereza Delta, muito bonita, não era afeita a gracejos, e, se precisasse, sacava do seu chicote para garantir a manutenção da ordem e, principalmente, do respeito.

Mas a frase está registrada e é de conhecimento dos mais antigos moradores de São Bernardo. “Enquanto os ricos do lado de lá da via Anchieta dormem em cama de colchão de mola, nós pobres dormimos em cama de pau duro”.

Muita calma nessa hora. Por mais grotesca que pareça, a frase apenas fazia referência ao fato de muitos dos batateiros do lado de lá da Via Anchieta dormirem em camas sem colchão.

Coisa da terra dos batateiros, dos colonizadores italianos, dos Demarchi, do bom vinho, e do frango com polenta…

* Marcelo Sarti é morador de São Bernardo, funcionário aposentado da Volkswagen do Brasil e conhecido crítico contumaz de administradores e políticos da região

PS – Excepcionalmente a edição desta semana da coluna Do Fundo do Baú não foi escrita pelo titular Carlos Alberto Coquinho Bazani

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3 Comentários on "Sobre os pobres que ‘dormiam na cama de pau duro’ em São Bernardo"

  1. Valdinete Ferreira da Silva

    Nessa disputa de defesa da classe rica e pobre, já se passaram tantos anos e até hoje, nós uma grande maioria, ainda dormimos em cama de pau duro

    • CliqueABC

      Amigo Marcelo Sarti, parabéns pelo texto. Mas há de ser dito que o autor desta frase, de pobre, não tinha nada. Afinal de contas, foi um dos pioneiros no Frango com Polenta e ajudou a montar um grande conglomerado gastronômico. Pelo visto, como todo político que se preze, já naquela época, na tentativa de se eleger, queria passar uma imagem de coitadinho e até mesmo tirar proveito da política assistencialista praticada por Tereza Delta.

  2. Alfredo

    Se é verdade eu não sei, mas segundo contam os antigos moradores da cidade, teve um candidato de São Bernardo que, viajando pela América do Sul, talvez Argentina, e, visitando um bar noturno, não compreendendo a língua, viu uma moça com quem conversava desenhando uma cama e entregando num bilhetinho, e foi logo concluindo, todo contente, dizendo ao amigo. ” Nossa! Viu só como sou conhecido? até aqui sabem que sou marceneiro.”

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