Da Redação – A Secretaria de Saúde de São Bernardo reuniu nesta sexta-feira (1º) cerca de 500 pessoas, entre trabalhadores e usuários da rede municipal, na 3ª Mostra da Saúde, que teve como tema “O SUS que Dá Certo – A experiência de São Bernardo do Campo”. O encontro, realizado no Centro de Formação dos Profissionais da Educação (Cenforpe), contou com rodas de conversa sobre os avanços e desafios da saúde pública e grupos de discussão sobre gestão e produção do cuidado.
Houve ainda a exibição de painéis com trabalhos científicos produzidos pela rede e divulgados em edições anteriores da mostra, e de um vídeo com narrativas reais de moradores da cidade atendidos pela rede. O evento contou com a participação do prefeito Luiz Marinho, do ex-ministro da Saúde Arthur Chioro e do presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems) Stênio Miranda.
O prefeito afirmou que, em oito anos, a rede municipal de São Bernardo saiu de um cenário “trágico” para se transformar em vitrine para outras cidades, um verdadeiro laboratório para implementação e revisão de políticas públicas em Saúde. A revolução no SUS, segundo ele, é fruto da dedicação dos trabalhadores, do compromisso assumido com a população e da convicção de que o serviço público merece o que há de melhor em termos de estrutura e atenção.
Marinho se emocionou ao dizer que, em 2009, a principal demanda apontada pelos moradores nas reuniões do Orçamento Participativo (OP) se referia a melhorias na Saúde. “Lembro-me de encontrar pessoas em situação muito difícil, sem atendimento. Era triste. Neste ano, não ouvimos nenhuma reclamação. Isso me faz lembrar de quando começamos e fizemos as primeiras visitas nas UBSs. Era uma situação trágica. Chegamos a interditar espaços que não tinham condição de funcionar. Hoje a população se orgulha do que foi implementado e sabe que vai ser tratada com dignidade.”
Contra a maré – Para Chioro, que foi secretário de Saúde em São Bernardo entre 2009 e 2013, é preciso enfrentar o debate sobre o financiamento do SUS em um momento crítico de crise política, com ameaçadas por corte de verbas e congelamento orçamentário. “Em São Bernardo, construímos nosso sistema num cenário de muita dificuldade, apenas com apoio do governo federal. Nadamos contra a maré. Em pouco tempo fizemos uma mudança estrutural tão significativa que não há no Brasil um conjunto de equipamentos como o de São Bernardo. E, para além de uma rede exemplar, construímos uma rede existencial, que dá sentido à vida das pessoas que cuidam e são cuidadas.”
Miranda, que também é secretário de Saúde de Ribeirão Preto, reforçou que os avanços em São Bernardo foram possíveis graças à vontade política e destacou a velocidade com que as mudanças foram impulsionadas. “São Bernardo é vanguarda também pela capacidade de formar pessoas. Profissionais que passaram por aqui anos atrás atualmente ajudam a estruturar o SUS em outros municípios. É um legado importante”, comentou.
O encontro teve início com uma grande conversa sobre “Os principais desafios para fazer o SUS que dá certo”, mediada pela secretária de Orçamento e Planejamento Participativo, Nilza de Oliveira, com a participação da secretária de Saúde, Odete Gialdi, da pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da USP Lumena Furtado, e da professora da Faculdade de Saúde Pública da USP Laura Feurwerker.
Nilza avaliou que o momento é de vigília e mobilização para que não haja retrocesso nas políticas públicas de garantia de direitos. “Nós, militantes do SUS, não podemos ficar desatentos nem desmobilizados. Há muito o que fazer, e não podemos retroceder nessa luta”, avaliou.
Odete Gialdi recordou que, em 2009, São Bernardo vivia um período pré-SUS, onde os serviços eram desorganizados e não havia integração. Foi preciso criar novas bases, tanto físicas quanto conceituais, para promover o cuidado de que a população necessitava. Além da reforma e ampliação de todas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs), a construção das nove UPAs, a implementação da rede de atenção psicossocial e a reorganização da rede hospitalar – com a inauguração do Hospital de Clínicas Municipal -, foi preciso mudar o modo de atuação e gestão dos serviços.
“O cuidado em rede é a marca do SUS em São Bernardo, e hoje podemos dizer que cuidamos bem da nossa gente, graças à atuação de homens e mulheres com espírito inovador, motivados a construir um SUS de verdade. Há oito anos iniciamos um diálogo constante e transparente com a população, temos conselheiros eleitos pela comunidade em todas as nossas unidades. Por isso o morador de São Bernardo confia na Saúde, e isso é uma grande conquista”, ressaltou Odete.
Lumena, que atuou como secretária-adjunta da Saúde de São Bernardo e secretária de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, destacou que é preciso levar a discussão sobre o SUS e promover ações integradas com outras áreas, como Cultura, Esportes, Segurança Pública, Educação, Habitação e Meio Ambiente. “Em São Bernardo essas pontes foram criadas, não só dentro da administração. Fomos além dos espaços formais, dialogando com movimentos sociais, coletivos, lideranças locais. Isso garante a sustentabilidade social do SUS e fortalece a luta de todos pelos direitos. Para produzir uma mudança real no jeito de cuidar das pessoas é preciso se nortear pela máxima de que toda vida vale a pena. Não podemos perder a capacidade de nos indignar com a falta de cuidado.”
Já a professora Laura Feurwerker frisou que as disputas e conflitos são o que tornam a rede de saúde viva e as experiências, mais ricas. “São Bernardo hoje é referência em SUS por sua capacidade propositiva e contestadora. É um processo que não pode se descontinuar, porque é a construção coletiva que reforçará a saúde como direito, e não como bem de consumo ou favor.”
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