Ode a São Caetano do Sul

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* Odila Giunta – Voltar ao Brasil é sempre um grande e feliz acontecimento. Pelo menos comigo é assim.

Um mês? Um mês não é nada para tanta gente querida para abraçar; conversas a serem postas em dia, e de olhar de perto a cidade onde cresci.

Quando vou a São Caetano, os primeiros lugares onde quero ir para visitar são lugares onde fiquei, onde eu conto um pouco de mim, e onde um filme passa pela minha frente. É sempre muito bom passear por esses caminhos interna e externamente.

Esse ano foi diferente. Diferente de todos.

Diferente, porque trouxe outros olhos para contemplar. Meus olhos estavam mais curiosos e minha sensibilidade muito mais à flor da pele, que queriam registrar e guardar cada momento como se fosse o primeiro e não o último, sem pressa para voltar para casa.

A primeira parada foi na pracinha. É. Aquela pracinha que há muitos anos atrás era a Prefeitura Municipal, ou o Paço Municipal, onde tinha um aquário, bem central na Avenida Goiás.

Pracinha onde eu dei meu primeiro passo, onde eu fiz inúmeros amigos, onde eu andava de bicicleta, onde depois do desfile de 7 de Setembro eu e uma roda de amigos ficávamos conversando…

Mas para a minha surpresa, a tal pracinha não existe mais. Não aquela com os bancos redondos e árvores no meio… Não… Para a minha total surpresa, os caras cobriram de cimento e alguém me disse que lá é a Câmara Municipal, mas se não me dissessem, jamais adivinharia, nem placa tem.

Bom, tudo muda… Eu mudei a cidade também mudou.

Sai de lá e peguei a Amazonas para ver a frente do IESCS.

Sim já sabia que a escola mesmo não esta mais lá já faz alguns anos, mas em 2008 quando fui ao Brasil, eu entrei, andei nos corredores, vi a quadra… Pude me ver por ali, com amigos antigos e queridos e professores interessantes e alguns inesquecíveis como o próprio Vicente Bastos, que foi quem me levou dentro da escola a ter mais contato com poesia e a palavra…

No portão, pude, na esquina da minha memória, cruzar meu olhar com a Tia Iara, que era temida por muitos, me vi sendo levada e buscada pela minha avó, vô e mãe, como pude rever também amigos que não verei mais… Lembrando desse dia lá em 2008, minha mãe vira pra mim e diz: – Ah filha quando você vier da próxima vez, o Instituto não estará mais ai, vão demolir!!!

Silêncio e um O QUÊ?? De indignação… Olhei ao redor…

O IESCS também virou um elefante branco … sujo, esquecido, e já não há nem sinal de que um dia aquele prédio pulsava vida. A correria das crianças, o sinal, a gritaria da moçada…

Enfim, olhei pela grade cerrada e me despedi da velha escola que ficará dentro de mim, para sempre!

Ah, sem falar no Hospital São Caetano, que virou um outro elefante branco… – Ah, mas o prefeito vai reabrir neste ano!, ouvia dizer. – Mas que prefeito?, questionei.

Mas sabe a pergunta que mais ouvi? Você já foi ver o shopping novo? Ohhh que maravilha!!! Tem cinema, né? Tem Zara, tem Mac…

É a cidade cresceu, deu valores a outras coisas. Afinal prédios, são só prédios, certo? Não vou me estender aqui, prometo.

Não. Não só de saudade foi feita a minha estadia na velha e boa São Caetano.

Fiquei superfeliz ao ir na Escola Digital e ser super bem tratada pelas senhoras que trabalham lá onde eu checava meus emails quase que regularmente, ia correr na Praça Di Thiene, que está bonita, super iluminada, com guardas e gente simpática que me davam bom dia todos os dias.

Abracei amigos queridos que fizeram parte da minha história, consequentemente um pouco daquilo que sou. Me emocionei ao ver cada um, houve aqueles que por não casar a agenda acabamos por não nos encontrarmos, mas ficou a promessa da volta.

Ah, sem falar, claro, na família, na minha família, que é a base de tudo o que sou.

Essa despedida do Brasil, dessa vez, foi a mais difícil. Primeiro, porque tive mais tempo para mim, para os meus amigos e familiares, e claro para ‘Sanca’, mas sentia tanta falta daqui, de Londres.

Sei que de agora em diante, morando aqui a 9 mil quilômetros de distância, sou uma pessoa dividida entre o Brasil, país que amo, onde estão minhas raízes, minhas mais belas lembranças, amores verdadeiros, e a Inglaterra, país que escolhi. Tudo bem que era só por 6 meses. E daí, os seis meses viraram 13 anos. Mas é um mero detalhe…

A pergunta que fica de quase todos é: – quando você volta?

Não sei, esse ano ainda, ou ano que vem, mas eu acho que há pessoas, como eu, para as quais a volta é uma grande ilusão, pois estamos sempre indo…

E deixando a saudade e outros olhares para a volta!

 

Neve em Londres

Curta a neve londrina com o videolog feito por Odila Giunta:

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See you then.

* Odila Giunta é jornalista, promotora de eventos em Londres, e natural de São Caetano, no Grande ABC

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