Da Redação – A jaguatirica é considerada um dos felinos selvagens com população mais abundante em sua área de distribuição, que se estende do sul do Texas, nos Estados Unidos, até o norte da Argentina. No entanto, na Amazônia, os resultados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Mamirauá, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (AM), demonstraram que a estimativa de densidade do animal é menor que a esperada para essa região. Esse é o primeiro registro de estimativa de densidade dessa espécie na Amazônia brasileira.
A densidade média é de cerca de 25 animais a cada 100 km², como destaca o artigo que traz os resultados da pesquisa, publicado recentemente na revista científica internacional PLoS One (leia o artigo na íntegra). Daniel Rocha, um dos autores do artigo e pesquisador associado do Instituto Mamirauá – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação -, reforça que esse dado contribui para o desenvolvimento de estratégias de conservação de jaguatiricas (Leopardus pardalis) em longo prazo.
“Esse estudo trouxe um pouco de luz sobre a ecologia da jaguatirica na Amazônia brasileira e serve como uma referência inicial para medir futuros impactos de conservação na Reserva Amanã. Apesar de ser uma das espécies de carnívoros mais abundantes no Brasil, ainda faltam informações básicas da sua ecologia e dos seus padrões de distribuição”, disse Daniel.
O artigo reforça que, apesar da estimativa ser menor que a esperada pelos especialistas, a densidade da espécie na Reserva Amanã parece estável, sem aumento ou redução significante durante o período do estudo. A pesquisa foi realizada entre os anos de 2013 e 2015. Para alcançar a estimativa, a equipe de pesquisadores instalou armadilhas fotográficas, cobrindo uma área de 130,8 km². Foram 93 registros de jaguatirica durante o período de realização da pesquisa.
De acordo com o pesquisador, a espécie foi muito caçada nas décadas de 1960 e 1970, em função do comércio internacional de peles. Atualmente, ela é considerada como “menos preocupante” na lista vermelha de espécies ameaçadas da International Union for Conservation of Nature (IUCN). “A jaguatirica é considerada o felino silvestre mais abundante no Brasil. Por isso, acredita-se que ele tem um papel importante nos ecossistemas onde habita e na dinâmica das populações de outras espécies de felinos silvestres. O desmatamento e a perda de habitat são, hoje, as maiores ameaças para a espécie”, reforçou.
A metodologia utilizada para estimar a densidade das jaguatiricas foi a mesma utilizada pelo Instituto para a pesquisa de onças-pintadas. No artigo, os autores reforçam que “o estudo corrobora a noção de que amostragens com armadilhas fotográficas projetadas para felinos maiores podem ser usadas para estimar a densidade de espécies menores, otimizando os recursos destinados a conservação”.
Para espécies das quais não existe conhecimento sobre densidades populacionais, o estado de conservação é geralmente baseado na extensão da sua área de distribuição geográfica, como explica Daniel. “Saber onde determinada espécie ocorre é importante, porém não é suficiente para entender o real estado de conservação da mesma. Informações sobre densidades populacionais ao longo tempo e em diferentes localidades são extremamente importes para a avaliação dos riscos de extinção e planejamento de ações de conservação. No entanto, ainda existem grandes lacunas de conhecimento sobre a situação da população da maioria destas espécies de carnívoros”, disse.
Além de Daniel, também assinam o artigo, como pesquisadores do Instituto Mamirauá, Emiliano Esterci Ramalho e Renata Ilha; Rahel Sollmann, da Universidade da Califórnia e Cedric Tan, da Universidade de Oxford. O estudo também faz parte da iniciativa Aliança da Onça-pintada.
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