Adolescente tem alta após oito anos internado na UTI do CHM de Santo André

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Paciente, que chegou a ser intubado, teve diagnóstico de doença autoimune grave em que o próprio sistema imunológico compromete as células nervosas

Texto: Rafaela Mazarin – Fotos: Alex Cavanha | Vídeo: Donizete Gimenez

Vídeos: https://we.tl/t-N8S9aWb1jQ

Da Redação – A manhã desta segunda-feira (22) foi marcada por grande superação e emoção no Centro Hospitalar Municipal (CHM), em Santo André. Isso porque, após 2.801 dias de internação, devido ao diagnóstico de uma doença autoimune sem cura, o adolescente Miguel Alexandre Faria, de 14 anos, finalmente, recebeu a tão esperada alta médica.

A ansiedade não deixou Miguel dormir direito. Acordado desde as 5h, o futuro ex-paciente olhava para cada pedacinho do quarto em uma forma de despedida. Com quase oito anos de internação, o adolescente se tornou o paciente mais antigo do local e, ao longo do processo de assistência hospitalar, acumulou cuidado, afeto e parceria de uma equipe de profissionais que diariamente torcia por sua recuperação.

“O Miguel foi o nosso paciente que teve a maior permanência no hospital. Ele morou aqui por oito anos, acompanhamos todo o processo em que ele deixou de ser criança para se tornar adolescente, sempre na torcida para que esse tão esperado dia chegasse. Foi feito todo um trabalho em rede, ele sai do hospital, mas não sai da rede de saúde. Ele permanece em acompanhamento e será assistido por uma equipe multidiciplinar que vai visitá-lo e fornecer a assistência necessária”, explica o superintendente da Atenção Hospitalar de Santo André, Victor Chiavegato.

Popular e queridinho, Miguel celebrou muitas datas especiais com a equipe. Houve aniversário em que ele recebeu três celebrações, uma em cada troca de turno. “Nenhum hospital está preparado para ter um paciente-morador, ainda mais uma criança. Então, foi e é um desafio diário de como, dentro de um ambiente hospitalar, a gente pode oferecer qualidade de vida para ele”, pontua a coordenadora da UTI pediátrica do hospital, Daniela Ferreira.

Uma multidão de mais de 30 profissionais se reuniu para acompanhar a alta. Durante a ação, que se tornou praticamente um evento, houve atração musical e muita diversão com o grupo de voluntários Palhaços da Alegria. O adolescente também recebeu um baú de recordações com fotos dos melhores momentos, além de cartas dos profissionais. Ao sair do quarto, Miguel se despediu da equipe após passar por um corredor de aplausos.

Miguel fez planos para a nova rotina que vai ter e, quando tiver condições clínicas, já decidiu qual será seu primeiro destino. “Quero ir para o parque, ver os pinguins na Sabina e também ir para a praia”, confidencia.

“É uma imensa alegria ver o Miguel recebendo alta hospitalar após uma internação prolongada e, por vezes, com cenário tão grave e adverso. Uma história de superação que conta com a dedicação e o empenho dos profissionais de Saúde, que o acolheram de maneira tão humanizada ao longo de todos este anos e que darão continuidade ao tratamento, agora em atendimento domiciliar”, afirma o prefeito Paulo Serra.

Diagnóstico – Até os 6 anos de idade, Miguel tinha uma vida saudável e normal. Em dezembro de 2014, após contrair uma gripe forte, houve a necessidade de ser assistido na rede de saúde e, na sequência, houve diagnóstico da doença com a necessidade de internação.

“O próprio sistema imunológico do paciente compromete as células nervosas, levando a um processo inflamatório, causando fraqueza dos membros, alteração da pressão arterial e palpitações, assim como paralisia muscular, alterando a deambulação e até mesmo a função dos músculos respiratórios. Muitos pacientes têm reversão do quadro em poucas semanas, mas alguns podem evoluir com sequelas importantes, como foi o caso do Miguel, necessitando de auxílio contínuo de ventilador mecânico e, por isso, a internação tão prolongada”, explica o médico Sérgio Murilo Marques de Souza, diretor técnico do CHM.

Os longos anos de internação também foram difíceis para a mãe do Miguel, a dona de casa Ana Aurora Faria, de 46 anos. “Houve muitas vezes em que eu cheguei à porta da UTI e voltava para trás, porque eu não conseguia ver a situação em que ele estava. Eu agradeço a todos, desde o pessoal da faxina à equipe médica e enfermagem. Eles foram maravilhosos”, diz.

Apesar de ter tido uma longa permanência na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Miguel foi alfabetizado e teve aulas regulares com professores da rede de ensino municipal.

Mesmo enfrentando uma doença que não tem cura, o adolescente apresentou significativa melhora ao longo do tratamento. Nesta segunda-feira ele voltou para casa sob os cuidados da equipe do Serviço de Atenção Domiciliar (SAD).

Cuidado domiciliar – Para munícipes que passaram por internação hospitalar e ainda necessitam de uma assistência direta com cuidados especiais, a Prefeitura de Santo André fornece o Serviço de Atenção Domiciliar, que leva aos pacientes a estrutura necessária para manter o cuidado em casa.

“Alguns insumos foram doados pela equipe. Outros equipamentos, como um concentrador de oxigênio, cilindro portátil, cilindros de oito metros cúbicos, kit para situações de emergência, ventilador BiPAP com bateria interna e nobreak foram fornecidos pela Secretaria de Saúde. Além disso, serão fornecidos insumos, dieta especial e medicamento de uso contínuo”, explica a coordenadora do Serviço de Atenção Domiciliar, Ana Paula Maniero de Souza Sorce.

Doações – Em uma grande corrente do bem, os profissionais da rede de saúde se reuniram e arrecadaram alimentos, fraldas e roupa de cama para fornecer à família. O Fundo Social de Solidariedade também fará assistência da família com doação de roupas, calçados, produtos de limpeza e alimentos.     

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