* Rafael Vianna e ** Michele Pinheiro – Canal de Denúncias, Canal de Ética, Ouvidoria. Você provavelmente já se deparou com algum desses termos dentro de alguma empresa. De maneira abrangente, esse tipo de ferramenta capta, por meio de denúncias, eventuais irregularidades e problemas no descumprimento de princípios éticos e políticos de uma organização.
Mas você sabia que o Canal de Denúncias é uma ferramenta poderosa para não só garantir um bom funcionamento geral dos processos de controle, mas também mapear e solucionar problemas relacionados à criação e manutenção de um ambiente de respeito e à inclusão de todas as pessoas colaboradoras?
Por que ter um canal de ouvidoria/denúncias?
Criado com a finalidade de prevenir ou mitigar ações que possam ser prejudiciais para a empresa, o Canal de Denúncias – popularizado no Brasil a partir de 2013, com a sanção da “Lei Anticorrupção” (Lei 12.846) – é um mecanismo fundamental para promover os princípios de ética e integridade de uma organização. É por meio dele que quaisquer pessoas ligadas à empresa, desde clientes e fornecedores até os próprios colaboradores, podem denunciar práticas consideradas ilegais ou suspeitas, como corrupção, fraude, suborno e conflito de interesses e comportamentos impróprios nas relações profissionais, como assédio moral, assédio sexual e discriminações.
Diferentemente de uma denúncia presencial, o Canal de Denúncias oferece a oportunidade de a pessoa denunciante se manter anônima durante o processo de acolhimento e investigação da denúncia e, para isso, elas podem ser feitas geralmente via telefone, e-mail, correspondência ou formulário online. Além disso, esses canais têm ampliado seu foco em garantir um ambiente de segurança psicológica para as pessoas.
Em virtude do crescente recebimento de denúncias de natureza do relacionamento interpessoal, os Canais de Denúncias têm sido um importante aliado para mapear práticas de desrespeito e exclusão. A Aliant mostra, por meio de seu relatório de 2021, que as denúncias dessa natureza no mundo corporativo aumentaram 11% entre 2016 e 2020 e o Ministério Público do Trabalho já afirma que as denúncias de assédio em empresas e órgãos públicos do país, em 2022, devem ultrapassar o volume de denúncias de 2021. É por meio deste conhecimento e mapeamento que se torna possível para as lideranças e times de RH construírem soluções assertivas e direcionadas, a fim de garantir um ambiente de respeito para todas as pessoas.
O papel das pessoas que atendem as denúncias
Para que o Canal de Denúncias seja eficaz, é imprescindível que os processos de captação, análise, investigação e procedência da denúncia estejam em perfeito funcionamento, mas também que as pessoas responsáveis pelo seu funcionamento possuam conhecimentos técnicos avançados para que a apuração, a investigação e a definição sejam realizadas com imparcialidade e discrição.
Ao mesmo tempo em que cada vez mais empresas trabalham pautas e metas de Diversidade, Equidade e Inclusão, aumentando o conhecimento na cultura da organização, mais comum se tornam denúncias relacionadas à má conduta no comportamento interpessoal. Casos de assédio moral ou sexual continuam representando a maior parte das denúncias que chegam até os canais, segundo a pesquisa da Aliant em 2021.
E é diante desse desafio cada vez mais complexo que se encontram as pessoas responsáveis pela apuração: como acolher essas denúncias de forma empática, ainda que imparcial?
A resposta não pode ser outra a não ser: desenvolvimento. Acreditamos na mentalidade de crescimento e que toda e qualquer pessoa, por melhor que seja tecnicamente em determinado assunto, pode e deve evoluir.
Denúncias de natureza relacional, quando mal apuradas, podem perpetuar situações de desrespeito e exclusão, colocando em xeque os esforços e a credibilidade de uma estratégia em DEI, por mais bem executada que seja.
Assim, é indiscutível que, para a evolução em DEI de qualquer empresa, faz-se necessária a capacitação profunda do time de Canal de Denúncias em conceitos de Diversidade, Equidade e Inclusão, junto ao desenvolvimento de processos e técnicas inclusivas. Sobretudo, no contexto dos grupos minorizados nas empresas, como pessoas com deficiência, mulheres, pessoas negras e LGBTQIA+, sabemos que essas pessoas são afetadas de maneira mais intensa por ambientes de trabalho sem segurança psicológica e culturas tóxicas. Um exemplo disso é que quase metade (47,12%) das mulheres já sofreram assédio no trabalho, segundo pesquisa da Think Eva, realizada em 2020. Esse número sobe para 63% quando se tratam de mulheres da região Norte do país.
Preparar o time do Canal de Ética para apurar as denúncias não apenas tecnicamente, mas também com esse olhar interseccional para as diferentes realidades dos grupos minorizados pode fazer toda a diferença na estratégia de diversidade e inclusão de uma empresa.
* Rafael Vianna e Michele Pinheiro são especialistas em DEI na ImpulsoBeta, Consultoria de Gestão de Mudança em Diversidade, Equidade e Inclusão.
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