Na última década, houve um aumento de 76,6% no número de internações; Projeto Infarto da SOCESP visa melhorar a qualidade da assistência ao infartado na rede e será debatido em Congresso de Cardiologia
Da Redação – Foram registradas 28.903 internações por infarto nos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado de São Paulo ao longo de um ano, sendo que 12,4% destes internos morreram, de acordo com apuração junto às secretarias de Saúde.
“O percentual é elevado, principalmente quando comparamos com um levantamento da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) em cujos hospitais o percentual de mortes por infarto é de 4,5% ou ainda com um conjunto de hospitais norte-americanos acompanhados pela Agency for Health Care Research and Quality, com taxa de óbitos de 5,8%”, diz o cardiologista e coordenador do Projeto Infarto da SOCESP (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), Antonio Claudio do Amaral Baruzzi. “Isso denota que um serviço de mais excelência, incluindo a rapidez no uso dos medicamentos adequados, pode reduzir casos fatais”.
Diante deste quadro, melhorar a qualidade da assistência na rede pública, com base nas mais recentes diretrizes nacionais e internacionais é objetivo do Projeto Infarto da SOCESP, em parceria com o COSEMS (Conselho de Secretários Municipais de Saúde) e Secretaria Estadual de São Paulo. “Há dez anos trabalhamos para padronizar o socorro ao paciente infartado, definindo fluxos, métricas e validando protocolos de atendimento”, explica Baruzzi. “Na fase atual, atuamos em duas frentes: treinamento para médicos e enfermeiros dos serviços de emergência do Estado e orientação para a população”.
Segundo o especialista, o ponto de partida para atender a um infartado é a correta interpretação do eletrocardiograma. “Porém, nem sempre os serviços contam com um cardiologista de plantão”. Por isso, o projeto contempla medidas como o Tele ECG, quando laudos de eletrocardiograma são realizados à distância por centros de especialidade para unidades de urgência da rede SUS. “Já para leigos, propomos atividades preventivas e de detecção precoce dos riscos de doença coronariana, além da criação de um aplicativo, que, mediante perguntas sobre a sintomatologia do quadro, dirá se a manifestação física é compatível com infarto e, neste caso, indicará o hospital público mais próximo por geolocalização”.
Coração paulista
Os dados oficiais apontam que, em pouco mais de uma década (entre os anos de 2008 e 2019) houve um aumento de 76,6% no número de internações por infarto nos hospitais do SUS nas cidades paulistas, com redução de 22,8% no total de óbitos. Na separação por gênero, registra-se um aumento de 71,1% nas internações masculinas, com 19,4% menos óbitos. Enquanto isso, a internação de mulheres cresceu em 86,8% e as mortes diminuíram 28%.
Também apurou-se que as altas foram expressivas nas internações por infarto em todas as faixas etárias: entre 20 e 49 anos foram 37% a mais; entre 50 e 69 anos, 90% de alta e acima dos 70 anos o acréscimo foi de 76%. Mas todas as idades mostram queda no percentual de mortes de internados. “Porém, os óbitos ainda são bastante relevantes”, diz Baruzzi. “Para se ter uma ideia, em 2019, a cada quatro idosos infartados, com 70 anos ou mais, um morreu nos hospitais do SUS de São Paulo.”
Quando o estudo foca nas cidades/regiões, nota-se que quase metade dos infartos ocorrem na Grande São Paulo: 14.256 foram nesta macro região. Em algumas cidade e regiões chama a atenção o aumento das internações por terem ficado muito acima da média estadual: na Baixada Santista, por exemplo, foram 194% de aumento no período analisado; em Registro, a alta foi de 118% e em Franca 93%. Destaque também para o aumento de óbitos por internações no período: na Baixada 117%, Registro 147% e Franca 107%.
Na relação internados x óbitos, Barretos foi a cidade que mais reduziu óbitos decorrentes das internações de infartados com baixa de 40,3%, enquanto Ribeirão Preto, apesar de ter registrado um número menor de internações, abaixo da média estadual, teve alta de 18,2%. Em Registro 13,3%, Franca 7,4% e Bauru 7,6%.
Congresso de Cardiologia
O tema é tão relevante que várias mesas, durante o 42º Congresso de Cardiologia da SOCESP, realizado nos dias 16, 17 e 18 de junho, no Transamérica Expo Center, serão palco de debates sobre formas de prevenção e atendimento ao infarto. Uma sessão especial do Projeto Infarto irá discutir o cenário da mortalidade no Estado de São Paulo, com base nos dados coletados pela SOCESP, se os tratamentos nos dias de hoje são suficientes para salvar vidas e, por fim, onde e como é possível melhorar os fluxos de atendimentos do paciente com dor torácica. “Os dados que iremos apresentar são tão relevantes que têm a capacidade melhorar a atual política pública de saúde e impactar em índices reduzindo mortes por infarto”, conclui o presidente do 42º Congresso, o cirurgião cardíaco, Walter Gomes.
Serviço: 42º Congresso de Cardiologia da SOCESP.
Data do evento: 16 a 18 de junho 2022
Local: Transamerica Expo Center, São Paulo/SP
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