Exposições marcam os 60 anos da Greve dos Queixadas em Perus
Realizadas pela Comunidade Cultural Quilombaque, atividades envolvem mostras com esculturas de porcos queixada e placas de rua simbólicas que vão resgatar a história do bairro de Perus
Da Redação – Você já ouviu falar na greve dos Queixadas? Trata-se de um movimento envolvendo centenas de operários da Companhia de Cimento Portland Perus – primeira fábrica de cimento do Brasil, criada em 1924, no bairro de Perus, região noroeste de São Paulo. Durante sete anos (1962 – 1969), esses trabalhadores paralisaram suas atividades, reivindicando seus direitos trabalhistas. A manifestação ganhou esse nome porque os grevistas eram conhecidos como Queixadas, fazendo alusão a um tipo de porco selvagem, que sempre lutava em grupo contra seus inimigos de forma persistente.
Desde então, a paralisação, que ocorreu em plena ditadura militar, é relembrada pela população de Perus por meio de debates e eventos culturais que visam, inclusive, ressignificar esse marco histórico por meio da construção de um Centro de Memória; a partir da reapropriação da Fábrica de Cimento da região, que foi tombada como patrimônio histórico de São Paulo, em 1992, e se encontra em deterioração.
Neste ano de 2022, em que a luta dos Queixadas completa 60 anos de história, a Comunidade Cultural Quilombaque, celebrará esse momento por meio de duas intervenções artísticas, com o intuito de promover reflexões e recontar a história da região de forma lúdica e criativa. Trata-se do projeto Trilha da Memória.
Uma das intervenções é o Queixadas Parade, que consiste na exposição de sete esculturas de porcos Queixada, customizadas por artistas locais de diversas vertentes. São eles: Bonga Mac, Cleiton Fofão, Danilo Guetus, Dede Ferreira, Derf, Dinas Miguel, Jana Albuquerque, Marina Lima e Thiago Consp. As obras simbolizam marcos históricos, ligados aos movimentos de luta do território, envolvendo os seguintes temas: Povos Indígenas, Movimento Queixada, Movimento Negro, Movimento MST, Meio Ambiente, Movimento de Moradia e Vala Comum. As esculturas serão expostas em locais públicos de São Paulo, como praças, escolas, feiras de rua, estações de trem etc, para que as pessoas possam interagir com a arte.
“A ideia do Queixadas Parade surgiu a partir do grande sucesso do Cow Parade, esculturas de vacas em fibra de vidro decoradas por artistas e distribuídas pelas cidades, e ficou reconhecido como a maior exposição pública do planeta, percorrendo diversas cidades mundo afora”, afirma Camila Cardoso, integrante do Quilombaque e comunicadora do projeto Trilha da Memória.
A outra intervenção artística é o Reemplaca Memo(ria), cuja proposta é renomear, de forma simbólica, as principais ruas do bairro de Perus com trinta placas comemorativas pelos 60 anos de luta dos Queixadas. “As placas terão nomes dos e das Queixadas. Desta forma, queremos despertar a curiosidade da população por saber quem são essas pessoas e o que elas representam. Além disso, vamos provocar uma discussão: ‘Por que não existem ruas com nomes de lideranças populares, de movimentos sociais, de artistas locais?”. questiona Dede Ferreira, idealizador e coordenador do projeto.
Para o coordenador do projeto, a memória marca o reencontro do passado com as relações sociais, culturais e econômicas nas quais vivemos; e o símbolo se faz presente na construção dessa memória resgatada, contribuindo para a formação de uma identidade.
“A memória é criada através do espaço, no coletivo. É ela que direciona a sociedade, suas ideias e valores, e principalmente cria uma identidade alimentando de imagens, sentimentos, É a memória coletiva que, nas grandes cidades, se perpetua de diversas formas: na construção de monumentos, estátuas e, também, de modo mais comum, no nome das ruas”, disse Raul Costa, produtor do projeto.
Assim, a Quilombaque pretende perpetuar a memória coletiva de luta dos Queixadas nas esculturas e placas expostas. As intervenções Queixadas Parade e Reemplaca Memo(ria) terão início no dia 13/05/2022 com uma festa de abertura que acontecerá na Comunidade Cultural Quilombaque a partir das 19h, e terá duração de quatro meses, com encerramento no aniversário do bairro de Perus.
Sobre a Quilombaque
A Comunidade Cultural Quilombaque atua no bairro de Perus desde 2005, de forma independente e autônoma, proporcionando aos moradores do bairro oportunidades culturais e de lazer, para que eles próprios consigam descobrir perspectivas empreendedoras e emancipatórias no lugar onde moram.
Ficha técnica do Projeto Trilha da Memória. Idealização e Coordenação: Dede Ferreira. Curadoria: Marina Lima; Design Gráfico: Cleiton Fofão; Comunicação: Camila Cardoso; Assessoria de imprensa: Mariana Mascarenhas; Audiovisual: Ulisses Sulivan; Produção das Esculturas: Renata Gonçalves; Pesquisa: Centro de Memória Queixada; Produção Geral: Raul Costa e Realização: Comunidade Cultural Quilombaque
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