* Otacílio Lopes de Souza da Paz (*) e Renata Adriana Garbossa Silva (**) – O mito do Brasil como um país sem desastres naturais fica a cada ano mais insustentável. Sempre no verão acontecem extensos e intensos desastres naturais relacionados às chuvas.
À medida que a ciência nacional avança, aprofundando o entendimento dos processos naturais próprios das nossas paisagens, fica cada vez mais claro que, quando falamos de desastres naturais no Brasil, nos referimos muito mais a deslizamentos e enchentes do que furacões e terremotos, como é o caso dos países do Hemisfério Norte.
O contexto geográfico dos países revela muito sobre as dinâmicas da paisagem que ali ocorrem. Diferentes combinações de formações rochosas, inclinações do terreno, solos e graus de urbanização vão gerar diferentes processos ambientais que podem oferecer risco às populações humanas.
Para compreender tais dinâmicas e mensurar o risco associado, é fundamental a realização de pesquisas de base, visando entender as minúcias do processo, principalmente seus agentes deflagradores. Nesse sentido, os pesquisadores e técnicos das geociências se destacam, visto que seu objeto de estudo se encontra justamente nesses elementos abióticos da natureza.
Geodiversidade é o termo que usamos para descrever o conjunto de elementos abióticos da natureza, como solos, minerais, rochas, formas do relevo e processos atuantes. A geodiversidade nem sempre ganha tanta atenção como a biodiversidade. Porém, são conceitos extremamente relacionados entre si, visto que a geodiversidade dá base para o desenvolvimento da biodiversidade.
O Brasil é um país com uma geodiversidade única. Temos inúmeros exemplos de planícies, serras, praias, rios, cânions e cavernas, sobre as mais diversas condições geológicas e pedológicas. Cada uma dessas paisagens vai ter processos ambientais atuantes que podem oferecer risco.
Na praia da Pipa (RN), em 2020, uma falésia desabou e vitimou uma família. Em 2021, o teto de uma caverna desabou em Altinópolis (SP), matando 9 pessoas. No começo de 2022, as paredes de um cânion desabaram no município de Capitólio (MG), deixando mortos e feridos. Agora, ainda em março de 2022, recebemos quase semanalmente notícias de deslizamentos e corridas de lama e detritos que estão arrasando municípios da região serrana do Rio de Janeiro.
Além disso, há diversos problemas ligados ao meio físico em curso no Brasil, como a intensificação de processos erosivos formando voçorocas no interior do Paraná e de São Paulo e até processos abióticos gerados pela ação humana, como o afundamento de parte da cidade de Maceió devido à exploração de sal-gema.
O meio físico do nosso país produz processos ambientais distintos de forma natural (por vezes potencializada pela ação humana) que vão oferecer riscos, sendo obrigatório que instrumentos de planejamento ambiental, como planos diretores, planos de manejo ou estudos de impacto ambiental, considerem esses riscos na definição de zoneamentos de ocupação humana, uso turístico e instalação de empreendimentos.
Cabe, dessa forma, ao geógrafo analisar a interação do homem com o ambiente, desempenhando um papel significativo na elaboração de planos de manejo para o estudo de áreas tanto de proteção quanto de conservação e análise ambiental, onde o geógrafo possui várias possibilidades de planejar o meio. Por fim, cabe ao profissional da ciência geográfica uma formação multidisciplinar, para que possa atuar na formulação de diretrizes básicas voltadas à recuperação de áreas degradadas no seu campo de atuação.
- Otacílio Lopes de Souza da Paz, é geógrafo e doutorando em Geografia. Professor da área de geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
- Renata Adriana Garbossa Silva, é geógrafa, pedagoga e Doutora em Geografia. Coordenadora da área de geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
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