Saúde animal dizimada em tempos de guerra

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O bombardeio ao Zoológico Feldman Ecopark, em Kharkiv na Ucrânia, repercute a possibilidade de sacrificar aproximadamente 6.180 animais nos próximos dias

Willian Barbosa Sales – A saúde única, ou seja, a tríade entre a saúde humana, animal e ambiental, tem sido foco de atenção devido à necessidade de manter o equilíbrio entre essas áreas para assegurar e garantir a sobrevivência de todas as formas de vida presente no planeta terra.

Após as últimas notícias vinculadas à guerra entre Rússia e Ucrânia e o bombardeio ao Zoológico Feldman Ecopark, em Kharkiv na Ucrânia, que repercutiu a possibilidade de sacrificar aproximadamente 6.180 animais nos próximos dias, como biólogo e doutor em saúde e meio ambiente, não posso deixar de expressar minha opinião a tamanha agressão a um dos pilares da saúde única: a saúde animal.  

Entendo que muitas pessoas são contra os zoológicos, pois ainda possuem aquela visão reducionista de animais comprados e presos para o entretenimento humano. Contudo, nas últimas décadas, essa visão se transformou, e hoje esses lugares são vistos e tratados como centros de refúgio e proteção à vida selvagem. Muitos dos animais que lá se encontram não possuem condições de serem reintroduzidos à natureza com segurança, muitos, inclusive, foram vítimas do tráfico e, nos zoológicos, encontram-se protegidos das atrocidades cometidas por nós, “animais humanos”.

Vários zoológicos ao redor do mundo possuem centros de pesquisa renomados para proteção, guarda e reprodução de material genético de espécies ameaçadas de extinção. Dessa forma, sem o serviço prestado por esses locais, muito em breve as espécies só seriam vistas em fotos.  

O anúncio feito pelo proprietário do zoológico, Oleksandr Feldman, comunicando que o local foi dizimado e não possui condições para manter a saúde e sanidade dos animais ali presentes, choca e revolta muitas pessoas. No entanto, devemos ter em mente que o bem-estar dos animais deve ser respeitado, levando em consideração as cinco liberdades: os animais devem estar livres de sede, fome e má nutrição; livre de dor, ferimentos e doenças; livre de desconforto; livre de medo e estresse; e livre para expressar seus comportamentos naturais.

O leitor deve concordar comigo que, neste momento crítico do auge de uma guerra, as cinco liberdades do bem-estar animal não podem ser sustentadas e subsidiadas, quebrando um elo da tríade da saúde única que é a saúde animal. Sacrificar os animais do Feldman Ecopark, embora drástica, é a atitude mais digna para evitar e não prolongar ainda mais o sofrimento coletivo das diferentes espécies de animais ali presentes.

Devemos lembrar que a guerra existente entre Rússia e Ucrânia já comprometeu a tríade da saúde única, com impactos tanto locais como regionais e, provavelmente, em longo prazo, também globalmente para gênese de doenças emergentes. Agora, resta aguardar as carcaças dos animais abatidos somadas aos corpos humanos espalhados nas ruas. O não destino adequado destes emerge como um novo problema de saúde única, a propagação de doenças infecciosas emergentes e reemergentes a toda população já fragilizada com as atrocidades da guerra.

* Willian Barbosa Sales é biólogo, doutor em Saúde e Meio Ambiente (UNIVILLE), coordenador dos cursos de pós-graduação da área da saúde do Centro Universitário Internacional Uninter

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