Chuva-de-ouro só deixa abelha comer pólen que não germina

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* Gabriella da Silva Saab – Equipe de pesquisadores da UFRJ, Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) e UFABC observou que a planta desenvolveu estratégia sofisticada para atrair abelhas e se reproduzir. Originária da Ásia (Índia, Miamar, Paquistão, Sri Lanka e Tailândia), a chuva-de-ouro (Cassia fistula) é uma espécie de árvore que se destaca pela beleza de seus cachos abundantes de flores amarelas e também por seus diversos usos na medicina tradicional ayurvédica.

Agora, um grupo de pesquisadores brasileiros descobriu que ela também tem um modo engenhoso de se perpetuar. Chamou a atenção dos botânicos o fato de que as flores da chuva-de-ouro apresentam três tamanhos de estames – as hastes com estruturas chamadas anteras, que produzem pólen.

A diferença de tamanho sugeriu aos pesquisadores que esses estames poderiam ter funções diferentes. De forma geral, os grãos de pólen servem para fecundar outras flores da mesma espécie, processo que leva à formação de frutos com sementes e ao nascimento de novas plantas. O pólen também alimenta alguns animais chamados polinizadores, como as abelhas, que transportam involuntariamente, de uma planta a outra, os grãos que ficam agarrados em seus corpos.

Novas plantas são filhas da flor doadora de pólen e da que o recebeu por intermédio dos polinizadores. Entre 1881 e 1883, os irmãos Müller levantaram a hipótese de estames diferentes produzirem pólen para diferentes propósitos: uma parte para garantir a reprodução e outros destinados à alimentação do transportador de pólen. Essa estratégia é conhecida como divisão de trabalho.

No caso da chuva-de-ouro, os pesquisadores fizeram vários experimentos para testar essa hipótese. Primeiro, eles verificaram que os estames intermediários são mais visíveis para seu principal polinizador, as abelhas mamangavas (Bombus sp.). Como as abelhas enxergam cores que não enxergamos, foram utilizados aparelhos que simulam a visão das mamangavas.

Quando os estames médios foram removidos, as abelhas quase não visitaram as flores, o que comprovou que esses estames são os visualmente mais atrativos. Eles funcionam como os sinalizadores das pistas de aeroporto para os aviões aterrissarem. As mamangavas pousam e se agarram justamente nesses estames médios.

Uma vez agarradas, elas vibram o tórax, fazendo com que milhares de polens saiam das anteras. Ao fazer isso, as abelhas ficam de costas para os estames grandes, que são pouco visíveis para elas. Os grãos de pólen dos estames grandes são depositados no dorso das abelhas e elas não podem comê-los, enquanto o pólen dos estames médios e pequenos fica preso à região peitoral e abdominal, onde elas conseguem comê-lo. Quando a abelha pousa em outra planta da mesma espécie, o pólen depositado em seu dorso alcança exatamente a parte da flor que deve recebê-lo: o estigma, onde os grãos germinam e a fecundam. 

Ao estudarem o conteúdo e a capacidade de germinar desses polens, os pesquisadores viram que só os grãos dos estames grandes têm capacidade de germinar, fecundar e formar sementes. O pólen dos estames médios e pequenos serve apenas para alimentação da abelha. Desta forma, a pesquisa revelou um exemplo de divisão do trabalho, uma importante estratégia da árvore para que os polinizadores voltem sempre a visitar suas flores, garantindo o transporte do pólen para a sua reprodução. 

A aluna de iniciação científica do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e graduanda do curso de Farmácia da UFRJ Gabriella da Silva Saab, orientada pelos pesquisadores Juliana Villela Paulino (UFRJ) e Vidal de Freitas Mansano (JBRJ), conduziu o estudo, que foi publicado na renomada revista britânica AoBPlants, da Universidade de Oxford. Esse trabalho foi multidisciplinar e teve também participação dos pesquisadores Anselmo Nogueira e Isabele Carvalho Maia (UFABC) e Pedro Joaquim Bergamo (JBRJ).
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