Espetáculo de dança presencial acontece na sede da Cia paulista, na Lapa, e é a 3ª etapa do projeto que contou com um compartilhamento público da pesquisa e com a exibição de um filme
Estreia acontece nesta sexta-feira (24), seguindo protocolos de segurança, com curta temporada até 10 de outubro.
Da Redação – Na próxima sexta-feira (24/9), às 20h, o Caleidos Cia de Dança vai realizar a estreia de “Fortuna”, espetáculo de dança. A estreia será presencial na sede da Cia paulistana, na Lapa, seguida de apresentações até 10 de outubro. Seguindo os protocolos de segurança e saúde, o Caleidos recebe público restrito para assistir o trabalho. A cada apresentação, 8 espectadores – nº máximo – são conduzidos pelos diretores da Cia a uma imersão nesse trabalho que une a dança contemporânea e o Mito de Orfeu para discutir a Sociedade do Cansaço.
A cada sessão, oito espectadores – com máscaras e distanciamento – são convidados pelo Caleidos a mergulhar num universo imersivo onde se misturam a megalópole pandêmica de São Paulo e o Hades da Mitologia Grega. O público, espécie de Orfeu em passagem pelo Hades, é convidado a circular pelo espaço e refletir, por meio da arte, sobre a Sociedade do Cansaço na qual estamos inseridos.
O espetáculo “Fortuna” do Caleidos Cia realiza um mergulho por meio da dança contemporânea no Mito de Orfeu para discutir a Sociedade do Cansaço descrita pelo filósofo Byung-Chul Han. Arte como compromisso com a contemporaneidade.
“Fortuna” é o primeiro resultado presencial do Projeto Capital Social do Caleidos Cia – contemplado pela 27ª edição do Programa Municipal de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo – trata da redução das vivências pessoais e sociais aos valores do capital. O espetáculo propõe uma imersão num ambiente híbrido: o Hades mitológico e a cidade de São Paulo.
Capital Social, foco do projeto de pesquisa do Caleidos, é um conceito que pertence à contabilidade e à sociologia. Em uma sociedade cada vez mais regida pelo universo do contábil, o conceito migrou destes campos para a fala comum e atualmente é uma espécie de mercadoria a ser negociada nas interações sociais. Para a contabilidade, Capital Social é o valor financeiro investido pelos sócios na abertura de uma empresa; é o valor inicial da empresa. Para Pierre Bourdieu, pensador francês que delimitou o termo para a sociologia, Capital Social é uma categoria do Capital. É um tipo de valor ligado ao indivíduo ou à sua classe social que se relaciona diretamente com a reprodução do sistema ou com a hipótese de mobilidade social.
Em nossa sociedade, conforme a vivemos nesse início de século – regida pelos mercados, tendo como ideal de vida o dinheiro, medida pelo desempenho individual, ameaçada pela depressão e pelo cansaço, guiada por coaches e livros de autoajuda financeira – Capital Social se torna o mote de interesses econômicos travestido de relações sociais.
O espetáculo “Fortuna” explora por meio da dança a Sociedade descrita pelo filósofo Byung-Chul Han, na qual os indivíduos se submetem não apenas ao Capital, mas tomam a si mesmos como objeto do Capital e são levados a se autoconsumir até o esgotamento.
“Fortuna” provoca os espectadores por meio de uma sobreposição de imagens produzidas pelas cenas: ícones de uma megalópole empobrecida pelo avanço neoliberal projetados no mesmo cenário simbólico do sagrado e do mitológico. O Ifood e o castigo de Tântalo reunidos no mesmo ambiente imersivo.
Nesse espaço – simbólico e caricatural ao mesmo tempo – outros planos se sobrepõem: vida e morte, dor e prazer, cotidiano e eternidade. O público, o Orfeu visitante, descola-se pelo espaço seguindo os anfitriões – os diretores do trabalho, Isabel Marques e Fábio Brazil. Os interpretes-criadores – Bruna Mondeck, Nicolli Tortorelli e Ricardo Mesquita – deslocam as cenas e o olhar do público nesse ambiente imersivo misturando em seus corpos os diversos planos dramatúrgicos do trabalho.
“Fortuna é o nome de uma deusa romana, regente acaso e da sorte, de seu nome derivam as ideias de riqueza material e destino que essa palavra traz em português. Esse misto de materialidade escancarada e manifestação de algum sagrado, contamina todo o trabalho. Dois mundos convivem ali, com suas regras, seus tempos e suas imagens divergentes.” – explica Fábio Brazil, dramaturgo e diretor do Caleidos Cia.
Os espectadores – apenas oito por apresentação – serão conduzidos nesse ambiente como visitantes do Hades – mundo inferior e pós-morte entre os gregos. “Para nós, o público é uma personificação de Orfeu. É visitante no Hades e torna-se estrangeiro em nosso mundo. Convocar o corpo e a dança para habitar esse não-lugar, onde tantas imagens se misturam e de alguma forma se repelem, foi um grande desafio” – completa Isabel Marques que dirigiu e coreografou o trabalho.
Serviço – Estreia do espetáculo “Fortuna”, com a Caleidos Cia de Dança, na sexta-feira, 24 de setembro, às 20h. Ingressos gratuitos. Entrar em contato com o Caleidos, à Rua Mota Pais 213, na Lapa, São Paulo. Distribuição gratuitas de máscaras PFF ao público. Máximo de oito pessoas. Temporada: sábado 25/09, às 20h; domingo 26/09, às 19h. sexta 01/10, às 20h, sábado 02/10, às 20h; domingo 03/10, às 19h; sexta 08/10, às 20h; sábado 09/10, às 20h e domingo 10/10, às 19h
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