A ligação entre os atentados de 11/9 com a situação atual do Afeganistão

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* José Eduardo Poloni Ponce – No dia 14/08/2021 o Presidente dos Estados Unidos Joe Biden anunciou a retirada de tropas americanas do Afeganistão após 20 anos de intervenção no país que ocorreu em resposta aos atentados de 11/09/2001 que deixaram quase 3000 pessoas mortas e que este ano irá completar vinte anos.

Os eventos fatídicos daquele dia foram apenas o começo de uma série de acontecimentos que ao longo dos anos chocaram a comunidade internacional, pois em seu discurso em frente a Capitólio o Ex-Presidente George W. Bush (2001–2009) disse “Ou estão conosco, ou contra nós” Esta frase deixa claro que haveriam respostas e retaliações, não somente por parte dos Estados Unidos mas de seus aliados, principalmente dos da OTAN.

A proposta da Guerra ao Terror foi levada ao âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas negada pelos membros devido ao fato que a Guerra ao Terror feriria a soberania daqueles países e por entrar em conflito com a Carta das Nações Unidas que consta no primeiro capítulo a autodeterminação dos povos. Mas mesmo a decisão da maior organização internacional estatal não impediu a invasão do Afeganistão por parte da OTAN sob o argumento de que o governo afegão liderado pelo Talibã estaria financiando grupos terroristas contra o Ocidente.

O resultado dessa invasão gerou diversas consequências para todo o mundo, como a crise dos Direitos Humanos que surgiu durante o conflito e escândalos de abuso de autoridade por parte das forças militares, mas nenhuma população e país foi tão afetado e abalado como o Afeganistão que desde o anúncio de Biden ganhou atenção global com as imagens da população desesperada para fugir do país que novamente passaria a ser governada pelo grupo extremista Talibã.

Estes acontecimentos apesar de separados por um período de vinte anos estão interligados, dado que durante estes anos de ocupação ocidental dentro do Estado Afegão acreditava-se que o exército deles fossem capazes de responder aos extremistas, mas vale ressaltar que durante estes vinte anos mais de 60 mil pessoas que integravam as forças de segurança afegãs morreram enquanto as baixas americanas somavam 2,3 mil pessoas, este dado apresentado pela BBC traz a tona a realidade de uma população que há duas décadas vem sofrendo com interferências estrangeiras que até hoje não conseguiu reconstruir sua nação.

Desde 2001 até a atualidade o Afeganistão não obteve sucesso em reconstruir suas instituições, mesmo com as declarações de Biden e outros líderes mundiais cujos países colaboraram com essas ações. É necessário mostrar que esta intervenção não acabou com todos os grupos terroristas de lá, mas começou vários conflitos entre forças militares externas contra grupos terroristas e dentre eles o Talibã que retornaria ao poder em 2021.

O Talibã chamou atenção do mundo todo com a rapidez, quando a capital Cabul foi tomada pelo grupo, as imagens desesperadoras de civis ocupando o aeroporto da cidade e se agarrando em aviões que estavam decolando percorreram ao redor mundo. Esta retomada do poder do país se deu por causa do treinamento e financiamento pelo Paquistão, país que reconheceu o novo governo do grupo e também pela saída das tropas norte americanas, pois segundo o governo americano o Inter-Services Intelligence (ISI) que é o principal serviço de inteligência paquistanês eles teriam treinado e recrutado membros do grupo jihadista.

Além do envolvimento paquistanês, deve levar em consideração que durante estes vinte anos de ocupação as instituições afegãs não estavam consolidadas fortemente a ponto de garantir total estabilidade no país e também porque elas assim como o próprio governo afegão ficaram dependentes da intervenção, porque foram os países intervencionistas que sustentaram elas enquanto ocupavam o país, e ao anunciar sua saída estas instituições se viram sem capacidade de responder a altura e caíram rapidamente.

Estes acontecimentos mesmo terem ocorridos em recortes temporais diferentes estão interligados, pois quando ocorreu a invasão em 2001 desencadeou um ciclo vicioso de conflitos que até hoje estão acontecendo naquele Estado e que sustenta bombardeios e ações militares externas por parte da OTAN que já levaram a morte de milhares de pessoas e gastos que segundo o Projeto Custo de Guerra da Universidade Brown chegam aos 2,26 trilhões de dólares, valor que supera o PIB da Republica Tcheca e Holanda.

  • * José Eduardo Poloni Ponce é graduando do quarto ano de Relações Internacionais da Universidade Anhembi Morumbi
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