* Simão Zygband – O país novamente amanheceu com mais uma denúncia contra o suposto presidente Jair Bolsonaro. Desta vez foi o seu envolvimento direto com as chamadas “rachadinhas”, o repasse de salários dos funcionários de seu gabinete e de seus filhos, que devolviam até 90% dos valores recebidos para um operador de sua família.
Nas gravações obtidas pelo portal UOL, com declarações da ex-cunhada de Bolsonaro, Andrea Siqueira Valle, Jair mandou demitir o irmão dela, André Siqueira Valle por que ele se recusou a entregar grande parte do salário de assessor do então deputado federal. Ambos são irmãos de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda mulher do presidente.
O cerco se fecha em torno de Bolsonaro, cujo governo faz água por todos os lados. Não faltam denúncias de “rachadinhas”, vínculo com as milícias, superfaturamento na compra de vacinas indianas (Covaxin), negligência no combate Covid-19, privilegiamento de militares e seus filhos em cargos governamentais, enfim, uma infinidade de irregularidades que já teriam sido suficientes para deposição de um governo em países com menor complexidade que o Brasil.
Mas o brasileiro é resistente e extremamente tolerante com políticos de direita como Bolsonaro. O medo de que a esquerda volte a governar o país com Lula, que no imaginário popular construído pela grande mídia foi demonizado, faz com que o ritmo das mudanças ocorram de maneira paquidérmica. Nenhum governo no mundo teria suportado a enxurrada de denúncias e evidências que pairam sobre o governo do capitão reformado. Mas aqui não é o que acontece.
O suposto presidente da República conhece muito bem os corredores do Congresso, onde teve uma passagem pífia por longos 33 anos. De alguma forma controla os deputados com métodos nada republicanos. Também coopta da mesma maneira pouco ortodoxa um oficialato das Forças Armadas, onde o desmando com recursos públicos se tornaram conhecidos com a compra de toneladas de pichanha, bacalhau, whisky importado, vinhos e com aquisição milionária de leite condensado etc.
É também inegável que nenhum governo teria suportado as pressões de quando foram apreendidos 39 quilos de cocaína na Espanha, em um dos aviões da comitiva presidencial, durante uma escala que Bolsonaro realizou quando se dirigia à China. Este episódio ganhou grande repercussão e se transformou em um grande vexame internacional.
Mas o que falta, afinal, para que Bolsonaro sofra impeachment, já que para completar o seu merecido calvário, quase um milhão de pessoas foram às ruas para exigir a sua saída em todas as capitais e grandes cidades brasileiras, mesmo em plena pandemia, que ainda ceifa milhares de vidas diariamente?
É bem provável que os parlamentares que hoje se locupletam do derrame de recursos de emendas e de outras fontes não contabilizáveis, logo desembarquem da nau bolsonarista, pois se não o fizerem estarão colocando em risco os seus próprios mandatos nas eleições de 2022. Muitos já não querem ter seus nomes vinculados a Bolsonaro por que, em plena queda vertiginosa nas pesquisas de popularidade e de intenções de votos, não mais será um puxador de votos e sim uma âncora que levará consigo seus seguidores para o fundo do poço.
Também vários empresários que embarcaram na aventura bolsonarista, por acreditarem que o Brasil melhoraria com o fim dos direitos trabalhistas e com a reforma da Previdência, perceberam que o país retrocedeu tendo à frente um governo neo-fascista, genocida, ligado em militares atrasados e nas temidas milícias.
Aparentemente os dias de Bolsonaro estão contados. Mas ele conseguirá prolongar sua permanência no poder? Só o tempo dirá
* Simão Zygband é jornalista e idealizador do site Construir Resistência
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