* Caio Bruno – Instituída como instrumento de trabalho para os parlamentares a partir da Constituição de 1934, as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) vêm ganhando com o passar do tempo cada vez mais destaque e espaço no debate nacional e nas rodas de conversa da população.
Desde a primeira criada em 1935 até os dias de hoje foram criadas dezenas de CPIs, algumas com relevância e importância histórica maiores como a que investigou empréstimos públicos ao jornal Última Hora em 1953, depois já na redemocratização vieram as comissões televisionadas como a do esquema PC Farias (1992) que culminou com o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, dos anões do Orçamento (1993) e a dos Correios (2005) que desembocou no Mensalão, grande pedra no sapato da era Lula (2003-2010).
Com menos de um mês de instalação, a Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado Federal que investiga eventuais omissões do poder público no combate à pandemia da Covid-19 inaugura uma nova era no debate público e acompanhamento por parte da sociedade. Agora, os senadores e os depoentes são confrontados com uma audiência digital que influencia e interage em tempo real com os trabalhos por meio das redes sociais.
Se no período midiático anterior, quando as CPIs eram transmitidas pela TV e pelo Rádio, os parlamentares já balizavam suas posturas com objetivo de agradar o eleitorado espectador, agora, esse termômetro se torna ainda mais forte. Há casos até de modulação de discurso no meio de uma fala ao perceber, por meio do feedback das redes, que o tom estava agradando ou não.
A plataforma que mais influencia e é onde a CPI tem uma importante base é o Twitter. Lá, foram criados perfis que abastecem os senadores com informações e apontam contradições de depoimentos que, em algumas ocasiões são confrontados com os depoentes quase que no mesmo instante.
Alguns integrantes da Comissão já entenderam esse novo momento e interagem ao vivo com os perfis do twitter, buscando informações e pontuando fatos. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL) foi além e já levou a ajuda “twitteira” para os anais da atividade ao citar os internautas como agentes ativos dos trabalhos e até abriu caixa de perguntas no Instagram convidando seus seguidores a enviar perguntas ao ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que depôs na CPI nos dias 19 e 20/5.
As sessões da CPI realizadas às terças, quartas e quintas estão entre os assuntos mais comentados nas redes sociais durante esse período e, por incrível que pareça, segundo estatísticas, 70% do conteúdo é crítico ao governo Bolsonaro. Sinal de que o bolsonarismo, que descobriu a importância das redes sociais e as utilizou com maestria, está perdendo terreno nelas. A CPI da pandemia veio dar um recado do eleitor para os seus representantes. A de que ele está cada vez mais conectado e participativo.
* Caio Bruno é jornalista e especialista em Marketing Político. E-mail: caio.cbruno@gmail.com
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