Texto-fotos – Fábio Sales
Da Redação – “Cristo Filho de Deus nasce pobre, no meio dos pobres, num lugar pobre, para sinalizar que Deus se faz pobre, porque Ele não concorda com o mundo de injustiça, que gera continuamente ricos cada vez mais ricos, e pobres cada vez mais pobres. Deus sinaliza que esse não é o projeto Dele. Por isso, Jesus vem resgatar a humanidade, começando daqueles que são os últimos, para que a salvação possa ser universal.”
Celebrando o Natal em tempos de pandemia, o bispo da Diocese de Santo André, Dom Pedro Carlos Cipollini, descreveu um dos grandes objetivos de comemorar o nascimento de Jesus, ao sinalizar que todos somos iguais, sem vaidade e egoísmo, durante a Santa Missa da Noite de Natal realizada nesta quinta (24/12), na Catedral Nossa Senhora do Carmo, no Centro da cidade andreense. O pároco anfitrião Pe. Joel Nery e o secretário episcopal Pe. Camilo Gonçalves de Lima também participaram da celebração, bem como fiéis que compareceram à igreja, que segue as normas de distanciamento social, utilização de máscaras e álcool gel e limite de 30% da capacidade do templo religioso.
“Necessitamos de acolhida, de perdão, mas Jesus que era e é o Todo Poderoso, por solidariedade a nós, se fez assim: pobre, humilde, desamparado e necessitando de cuidados. Esse é o Natal da fé! O Natal que nos coloca diante de Deus e de nós mesmos, para receber em Jesus Cristo, todo bem e toda graça”, aponta Dom Pedro.
Na manhã desta sexta-feira (25/12),o bispo diocesano celebrou a Missa de Natal na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, na Vila Luzita (Região Santo André – Leste) e deu posse ao Pe. Cícero Soares da Silva Neto como pároco desta igreja. Relembre a sua posse como administrador paroquial em agosto deste ano:http://bit.ly/335lthM .
Sinal de comunhão
Logo no início da celebração, o pastor da Igreja Católica no Grande ABC venerou a Imagem do Menino Jesus, uma vez que em razão da pandemia da Covid-19, a procissão até o presépio não ocorreu nesta missa.
“Estamos reunidos nesta noite santa para celebrar o nascimento de Jesus. Claro, que as celebrações eram diferentes antes dessa pandemia. Aquela alegria, aquele encontro, tudo aquilo que nos emocionava tanto no sentido de colocar nossos corações agradecidos diante de Deus. Estamos fazendo a mesma coisa, de forma diferente, porque não podemos deixar de nos reunir mesmo obedecendo todas essas normas, inclusive o distanciamento”, constata Dom Pedro, ao reforçar que a Igreja sinaliza essa comunhão entre os irmãos, mesmo num ano atípico.
“Jesus disse: “Onde dois ou mais estão reunidos, Eu estou no meio deles” (Mt 18,20). Reunir-se para a Igreja é essencial. Assim como para uma família, também. Mesmo de forma diferente como o fazemos, agora, e em quantidade tão menor. Mas nós aqui sinalizamos este ser da própria Igreja, que é comunhão”, frisa.
Luz contra as trevas
“O que Jesus veio fazer? Jesus veio justamente revelar quem é Deus. O povo que estava nas trevas viu uma grande luz. Um mundo que busca Deus e não é capaz de chegar até Ele viu a luz porque Ele veio até nós. O homem, com a sua inteligência, Ele pode entrar dentro da religião, do espírito religioso, mas se Deus mesmo, não vem revelar a nós, quem Ele é, não conseguimos descobrir só com a nossa inteligência”, explica Dom Pedro, durante a homilia da missa da véspera de Natal.
Segundo o bispo, o homem, na escuridão, busca uma resposta e Deus vem responder ao ser humano que Jesus é a resposta para todas as perguntas que a humanidade faz.
“Jesus diz: “Eu sou a luz, quem me segue não anda nas trevas” (João 8,12). Natal é festa da luz. Essa luz que revela ao homem qual o caminho que ele deve trilhar. Jesus, como diz a segunda leitura (Tt 2,11-14), vem revelar que o homem foi feito para amar a Deus, amar os irmãos, e participar pelo amor da vida divina. Assim como pai, a mãe transmite aos filhos suas características físicas, psicológicas, Jesus revela que nós somos filhos e filhas de Deus destinados a sermos parecidos com Ele. E sendo parecidos com Ele, participa da sua divindade”, explica Dom Pedro.
Contemplar o mistério
O evangelho da Missa da Noite de Natal (Lc 2,1-14) narra o nascimento de Jesus. “Olha a grandeza do que celebramos. O nascimento de Jesus tem uma profundidade, um alcance para nossa vida de fé, enorme tanto que é no calendário litúrgico, a festa principal é a festa pascal. Cristo que padeceu, morreu e ressuscitou”, descreve Dom Pedro.
Segundo o bispo, essa paixão e morte de Cristo já está prefigurada na madeira daquela manjedoura, onde Ele foi depositado.
“O anjo anuncia uma grande alegria, envoltos em luz, aos pastores o prenúncio da ressurreição. Jesus revela-nos quem é Deus. Esse Pai de amor que quer que todos se salvem. Mas Jesus revela também quem somos nós, destinados a tão alto destino. Essa é a nossa vocação”, indica.
Somos todos iguais
Diante desse anúncio, Dom Pedro diz que somos convidados mais a ouvir, meditar, contemplar o mistério, contemplar esse presépio descrito no evangelho para nós.
“E diante desse presépio, com humildade, dizer nós aceitamos Jesus como o nosso Salvador. Coloquemos nos entre aqueles pastores, homens, pessoas desprezadas por toda a sociedade. Eram vistos como indignos, porque eles cuidavam do gado, do rebanho, não tinham tempo de ir na igreja, no templo para rezar”, recorda.
Dom Pedro aprofunda durante a meditação do evangelho que a elite religiosa, política e econômica da época tratava os pastores como pessoas desprezíveis. “Pois bem, são eles os convidados, eles são os primeiros a olhar o presépio, a manjedoura, Maria, José, o boi, o burrinho, os animais ali naquele fundo quintal onde estava essa gruta, porque não teve lugar para eles na casa”, salienta.
“Não teve lugar para Ele (Jesus), como hoje não tem lugar para Cristo em muitos lugares e corações. Mas nós temos um lugar para Ele em nosso coração, através da nossa fé. Por isso estamos aqui. Mas junto com os pastores contemplemos o presépio”, convida.
Confira a mensagem de Dom Pedro sobre o presépio, na íntegra:
“Olhando o burro, peçamos forças para carregar as preocupações, as inquietações dos nossos amigos e todas aquelas preocupações pesando sobre nossos ombros.
Diante do boi, peçamos que sejamos aquecidos com seu hálito, com seu calor e nos console neste inverno das separações, criadas pelo confinamento e pela indiferença de muitos. Olhando as ovelhas, peçamos orientação a Deus para não seguirmos estupidamente o rebanho, que sejamos ovelhas desconfiadas dos falsos pastores, impostores egoístas e falsas notícias. Que sejamos fiéis ao Bom Pastor, capaz de guiar-nos para a vida plena.
Peçamos aos pastores: ensine-me a ler à noite a mensagem das estrelas, capaz de indicar-me como permanecer no rumo da Esperança, e seguir o caminho da verdadeira Alegria, da única Alegria que é Deus vindo até nós. Peçamos a José: impeça minha raiva quando as coisas não saírem do meu jeito e, ao invés disso, ajude-me a manter o silêncio, com paciência e na paz. E ajude-me a perseverar em meu trabalho.
Peçamos a Maria, a mão do Menino Jesus, a coragem e a sabedoria de perceber a diversidade quando julgo os outros e os eventos. Ela, sempre desafiada a compreender as ações do Filho, pode instruir-me – com sua sabedoria e santidade – a considerar as coisas sem perder de vista o essencial, e a ter confiança.
E olhando a manjedoura ainda vazia, porque nós estamos recebendo o Senhor, pedir que ela nos recolha como somos, pobres, limitados, nus, desamparados, necessitados dos cuidados dos outros, diante do cosmo, do mistério que nos envolve, principalmente o mistério da encarnação do verbo que nós queremos celebrar.”
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