FMI diz que país gasta o equivalente a 13,4% do PIB com servidores ativos e inativos; publicação da CNI lista Brasil na 7ª posição em ranking mundial
Da Redação – Os gastos do Brasil com o funcionalismo público da União, dos estados e dos municípios equivaleram a 13,4% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2018, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Entre mais de 70 nações, o País é um dos que têm as despesas mais elevadas com servidores públicos ativos e inativos, proporcionalmente ao PIB, segundo a nota econômica “O peso do funcionalismo público no Brasil em comparação com outros países”, elaborada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).
De acordo com a nota, o Brasil é o sétimo no ranking de gastos com o funcionalismo, ficando atrás, apenas, da Arábia Saudita, Dinamarca, Jordânia, África do Sul, Noruega e Islândia. O país também tem mais despesas com o funcionalismo do que os integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cuja média de gastos representou 9,9% do PIB.
Carlos Ari Sundfeld, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Público, destaca que boa parte dos gastos elevados com o funcionalismo se deve aos privilégios elevados de carreiras de elite, como “juízes e promotores”. Ele destaca a necessidade de uma reforma administrativa que traga mais igualdade entre os diversos setores do serviço público e dê fôlego aos cofres públicos.
“O número de pessoas não é excessivo no Brasil, mas os gastos são. Os recursos de poder público não são infinitos, eles vêm da sociedade e nós temos que mantê-los num nível que podemos pagar. Temos que controlar o crescimento explosivo das despesas com servidores públicos, sobretudo, nas carreiras de elite”, afirma.
Desequilíbrio
De acordo com a nota, a
principal explicação para o maior comprometimento do orçamento brasileiro com o
funcionalismo é a disparidade salarial dos servidores na comparação com o que
recebem os trabalhadores da iniciativa privada. A remuneração dos funcionários
públicos federais é 67% maior, o índice mais alto de um estudo do Banco
Mundial, que incluiu 53 países. Em média, a vantagem salarial do funcionalismo
entre os países pesquisador é de 16%.
Segundo o deputado federal Tiago Mitraud, do partido Novo de Minas Gerais, além
das distorções em relação aos salários na iniciativa privada, outro motivo para
os altos gastos com o funcionalismo, na comparação com os outros países, são as
despesas com os servidores que já se retiraram.
“Você vai ter duas questões. Uma delas é dos inativos. A gente até hoje não tem
uma Previdência adequada no Brasil. Fizemos uma reforma ano passado, mas que ainda
não é suficiente para que ela se sustente. E, depois, você vai ter um inchaço e
distorções muito grandes relacionadas à folha de pagamento do funcionalismo”,
alega.
O gasto total com servidores federais somou R$ 319,5 milhões em 2019, dos quais
56,5% com trabalhadores ativos e 43,5% com inativos.
Situação mineira
Segundo o Tesouro Nacional,
nove estados do país superaram o limite de 60% de gastos com folha de pessoal
no último ano, contrariando a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Minas
Gerais é um deles. Em 2019, 69% da receita que o estado obteve foi gasta para
pagamento de ativos e inativos. Ao todo, R$ 44,2 bilhões foram despendidos em
salários.
O deputado Tiago Mitraud destacou que há quatro anos o estado paga, com atraso,
os salários dos servidores locais. Segundo ele, parte disso se deve ao lobby de
determinadas classes do funcionalismo por salários e condições “irreais”, o que
acaba prejudicando os próprios trabalhadores públicos. “A gente vê que as
pressões corporativistas que são feitas acabam prejudicando o próprio
funcionário público, porque para de ter dinheiro para pagar”, reforça.
Apesar dos problemas, ele acredita que a atual administração tem caminhado na
direção correta para solucionar o déficit. “Minas, de fato, é um dos estados
que está nessa situação, que vem sendo regularizada pelo atual governo, mas que
devido ao tamanho do rombo, ainda vai levar um bom tempo para sanear as contas
públicas”, acredita.
Reforma Administrativa
Encaminhada pelo governo ao
Congresso Nacional no início de setembro, a proposta de reforma administrativa
visa alterar as regras para os futuros servidores públicos dos três poderes
(Executivo, Legislativo e Judiciário), estados e municípios.
A PEC acaba com a estabilidade do serviço público, que ficaria restrita às carreiras
de Estado, flexibiliza o regime de contratação, facilita a possibilidade de
demissões, cria um período de experiência, regulamenta a avaliação de
desempenho e põe fim aos penduricalhos, como licença-prêmio e adicional por
tempo de serviço, entre outras mudanças.
O texto não muda o regime para os servidores atuais, nem para os magistrados,
militares, parlamentares e membros do Ministério Público. Segundo Matheus Rosa,
pesquisador da FGV (Fundação Getulio Vargas), os valores gastos com o
funcionalismo devem cair com a reforma e só não serão maiores devido à não
inclusão de integrantes de outros poderes e dos servidores que estão na ativa.
“Para respeitar os contratos que estão em vigência, o governo decidiu que a
reforma só vai abarcar as novas contratações no serviço público. Mas a gente
pode dizer que deve gerar economia no longo prazo, devido ao fim de alguns
privilégios e a maior flexibilidade de contratação de pessoal. Em uma
situação de emergência fiscal seria possível controlar as despesas com pessoal
através do corte na folha salarial”, avalia.
Para Sundfeld, muitos estados, como o Rio Grande do Sul e o Paraná, já se
anteciparam e realizaram reformas para controlar os gastos, diminuir a
desigualdade entre as carreiras e estimular o desempenho, algo que na visão
dele deve ser adotado na reforma administrativa mais ampla, proposta pelo
Executivo.
“Temos que aumentar a produtividade do setor público brasileiro, a qualidade da
atuação dos agentes públicos e, para isso, temos que dar estímulo para quem
trabalha melhor e para que as pessoas possam trabalhar melhor. Temos que
valorizar o conjunto de pessoas que trabalham na administração pública”,
defende.
Fonte: Brasil 61
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