* Coluna Boa Prosa – O mundo está cansado, farto de tensões, acirramentos e confrontos. O planeta pede bom senso, acordos, ou seja, multilateralismo.
A vitória de Joe Biden nos EUA expressa essas vontades e nos revela, ainda, muitas outras coisas, a começar pela votação recorde num país onde o voto não é obrigatório, levando-se em consideração que vivemos uma série de restrições e exigências sanitárias durante esse período de pandemia.
Os americanos, cidadãos da maior potência econômica e militar da Terra, fizeram questão de sair de casa para manifestar as suas escolhas, apesar de todas as obrigações de distanciamento social impostas ao planeta. Isso é fato relevante.
Além disso, até em razão dos últimos acontecimentos de repressão policial desproporcional em casos envolvendo negros, o voto em Biden é simbólico e cheio de significado. Afinal, sua vice, Kamala Harris, senadora pelo Estado da Califórnia, é negra e oriunda de uma família de imigrantes, com pai jamaicano e mãe indiana.
Os EUA, a exemplo do Brasil, é uma nação composta pela miscigenação, onde os ‘nativos’ também são índios.
Portanto, essa derrota de Trump, notório político populista, com discurso cheio de nacionalismo ufanista, vem recheada de protestos dos mais variados segmentos étnicos e sociais daquele país.
Verdade que o resultado das urnas revela um país dividido, num cenário semelhante a uma nova ‘Guerra Fria’ camuflada, mas o planeta já demonstra sinais de que está farto de divisões de qualquer espécie.
Por aqui, Bolsonaro mantém-se calado, com algumas poucas insinuações de que ‘é preciso aguardar os próximos passos de Trump diante da derrota.’
O mundo todo já reconheceu a vitória de Biden, sendo o nosso presidente uma triste e vergonhosa exceção.
A que ponto chegamos!
Afinal, nunca houve reciprocidade por parte de Donald Trump diante dos afagos públicos de Bolsonaro.
Inclusive, o nosso país contabilizou algumas perdas no relacionamento comercial com os EUA do Republicano, mas, mesmo assim, o nosso líder, teimoso e arrogante, continua querendo dar ‘murro em ponta de faca’ por um orgulho idiota de quem parece sentir vergonha de dar o braço a torcer e admitir o óbvio.
Esse comportamento só nos constrange, porque é algo parecido ao modo de agir de uma ‘criança mimada’, que prefere preterir os nossos interesses comerciais globais em nome de uma amizade que não desfruta da via de mão dupla.
Por que esse complexo de vira-lata ? Qual é a razão disso ?
Não há nenhum problema em se aliar aos EUA, mas isso tem de ser uma política de governo independentemente de quem esteja no poder por lá.
Bolsonaro confunde os conceitos de governo e Estado. Preferências pessoais não podem comprometer o nosso honrado compromisso de Estado de parabenizar o vencedor.
A pergunta que fica é: Qual é a vantagem em agir assim ?
O negacionismo constante do nosso mandatário maior, diante da transparência do óbvio, está nos levando ao isolamento que, aliás, ele tanto critica durante a pandemia.
No mínimo, um paradoxo irônico, que pode nos levar a uma situação trágica.
* Gabriel Clemente é jornalista graduado pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Atuou como repórter da rádio ABC, assessor de imprensa político e assistente de comunicação institucional do Centro Universitário Fundação Santo André (FSA)
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