“60+4. Outros Anos da Mesma Crise” remonta o Brasil dos anos 60 pré-golpe de 1964

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Livro sobre o período pré-golpe cívico-militar indica paralelos com a realidade atual do Brasil

Da Redação – O que aprendemos sobre o golpe cívico-militar quase seis décadas depois? Essa é uma das reflexões propostas por Paulo Sergio Silva, mestre em História, no livro “60+4. Outros Anos da Mesma Crise”, o qual traz à tona uma análise dos quatro anos que antecedem o dia 1º de abril de 1964. A obra foi lançada em agosto no formato digital pela editora e-Manuscrito, com lançamento do impresso previsto para outubro deste ano.

O livro é resultado da dissertação de mestrado de Silva pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), defendida em 2013, e conta com diversas análises que se confundem com o contexto atual. A obra ganha relevância no momento em que vivemos, por registrar naquela historicidade acontecimentos próximos do contexto polarizado que vivemos hoje, segundo Silva. 

“É possível comparar os últimos anos do período 1960-1964, porque o livro transpassa por vários temas que continuam atuais, como por exemplo, o grande temor da reforma agrária; do comunismo; das políticas de demarcação de terras, entre outros. Tudo isso estava presente naquela época, assim como a polarização entre capitalismo e comunismo na atualidade”, comenta o historiador.

O livro possui o recorte temporal que é conduzido até abril de 1964 quando se deu a ocupação do poder pelos militares, mediante a aprovação do Ato Institucional nº 1. No entanto, é possível constatar que ecos dos acontecimentos, ocorridos nas próximas décadas, repercutem até hoje. 

Em 2022, um relatório elaborado pela UniRio apontou um crescimento de 335% nos casos de violência por motivação política nos últimos três anos. No 1º semestre deste ano, 214 casos foram contabilizados e 45 lideranças políticas foram assassinadas. 

Buscando atenuar a questão, a Defensoria Pública da União (DPU) estabeleceu o Observatório de Monitoramento e Combate à Violência Política até o final das eleições de 2022, para que casos de violência desse tipo sejam denunciados. 

Além disso, a imprensa tem um papel central tanto no período pré-golpe, como nos últimos anos, com ofensas diárias a jornalistas por parte do atual chefe do executivo, a qual pode ser exemplificada por meio do caso que aconteceu envolvendo a jornalista Vera Magalhães durante o debate na TV Bandeirantes em 28 de agosto. 

Na obra, Silva aborda a polarização entre 1960-1964 nos jornais brasileiros da época. “Por meio da releitura de manchetes e reinterpretação de imagens do fotojornalismo que compuseram algumas das primeiras páginas/capas dos diários paulista e carioca, Folha de São Paulo e Última Hora, o livro lança luz sobre o sombroso e germinal pré-projeto ditatorial sustentado pela direita conservadora”, explica ele. 

O cenário socioeconômico do Brasil de 1960

Historicamente, o golpe de 64 constituiu-se na quarta tentativa dos militares para a tomada do poder. Houve uma primeira tentativa em 1954 depois de anunciado o suicídio de Vargas. Antes da posse de Juscelino Kubitschek em 1956, ocorreu a segunda tentativa, também sem sucesso. Já, em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, foi frustrada a terceira investida. Finalmente, em 1964, setores conservadores dos quartéis, com o apoio de parte da sociedade civil, depuseram o então presidente João Goulart, se impondo no comando do país.

“No livro, não voltamos a 1954. Usei o ano de 1960 como referência de ponto de partida para destacar a abordagem econômico-financeira, a dependência ao capitalismo estrangeiro, o atraso tecnológico-industrial, e o endividamento do país – no início dos anos 60, cerca de R$1,8 bilhão de dívida externa”, comenta o autor. 

Segundo Silva, a literatura acerca da ditadura cívico-militar é bastante vasta e, com sua obra pretende complementá-la, trazendo fatos do panorama socioeconômico e cultural da história brasileira ali vivida. 

Desde então, o cenário financeiro em construção mantém similaridade pois, ainda passamos por um período de crise econômica com a taxa básica de juros em 13,75% a.a. e a inflação em desaceleração recente. Para 2023, o plano de orçamento do governo prevê cortes de cerca de 90% em infraestrutura, saúde e educação, gerando duvidosas expectativas para os tempos futuros.

Serviço “60+4. Outros Anos da Mesma Crise”

A obra já está disponível nas Livrarias Digitais, como Amazon e Livraria Cultura (R$25 – R$30), enquanto a edição física pode ser comprada pela Livraria Martins Fontes (R$58,00).

Sobre Paulo Sergio Silva:

Paulo Sergio Silva é historiador e dá cursos, palestras e aulas por várias instituições nacionais. Autor de livros didáticos para cursos preparatórios em universidades e concursos públicos, sobre História do Brasil e Atualidades. Possui Mestrado em História Social, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no qual trabalhou por meio de análises imagéticas do fotojornalismo, os acontecimentos sustentadores do golpe cívico-militar de 1964, no Brasil.

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