* Wilson Moço – Superação, determinação, garra, disposição, foco, força, fé. Todas essas palavras, algumas diferentes, mas com o mesmo sentido, podem ser usadas para resumir o que levou Rafaela Silva a conquistar a primeira medalha de ouro para o Brasil na Rio 2016, na segunda-feira (8). E, claro, também a sua competência para vencer as cinco lutas do dia na categoria até 57 kg, sendo que na decisão derrotou nada menos do que a número 1 do mundo, a mongol Sumiya Dorjsuren. Antes dessa conquista, Rafaela já havia sido campeã mundial, em 2013.
Mas subir ao lugar mais alto do pódio e ouvir o Hino Nacional no quintal de casa – Cidade de Deus fica a apenas sete quilômetros do Parque Olímpico da Barra, onde conquistou o ouro — foi a redenção e a melhor resposta que a carioca Rafaela Silva poderia dar a insultos do passado. Afinal, a judoca de família pobre por pouco não sucumbiu à punição e consequente perda do ouro na Olimpíada de Londres 2012 e às ofensas racistas, chegou mesmo a ser chamada de macaca nas redes sociais após a eliminação logo na primeira luta em Londres, quando buscou apoio da torcida pela Internet.
Como não é uma pessoa de se calar, Rafaela respondeu, discutiu com internautas e foi advertida pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que também criticou as ofensas raciais contra a judoca. Naquele momento, faltou muito pouco para o Brasil perder uma de suas mais promissoras judocas, que só tinha 20 anos e teve de lutar contra o racismo e com a dor da derrota — era uma das favoritas ao ouro em Londres.
Guerreira, contou com o apoio incondicional da família e uma espécie de operação da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) para recuperar a atleta que envolveu psicólogos e, principalmente, Geraldo Bernardes, ex-técnico da seleção brasileira e descobridor de Rafaela. O trabalhou deu resultado e, praticamente um ano depois do episódio de Londres, Rafaela foi a primeira brasileira a se tornar campeã mundial, em 2013.
Essa vitória foi importante, sem sombra de dúvida, mas a sequência de cinco vitórias no tatame do Parque Olímpico e a conquista do ouro são a perfeita tradução do que foi a trajetória de vida da menina pobre e de sua família: árduas lutas, e importantes vitórias. Criada na Cidade de Deus, Rafaela era conhecida na favela como brigona. Talvez por isso mesmo sua mãe, Zenilda Lopes da Silva, achou por bem levar a filha para fazer judô, quando ela tinha apenas 5 anos.
A partir daí, começava a surgir mais uma prova de que brasileiro é capaz de superar dificuldades, de dar a volta por cima, em que pese o descaso, as falcatruas e o desgoverno no País dos mensalões, dos petrolões, dos trensalões, do escândalo da merenda (SP) etc e tal. E onde sobra dinheiro para beneficiar os apaniguados, mas falta para incentivar os chamados esportes olímpicos, como o judô, que deu a primeira medalha de ouro ao Brasil justamente no berço de Rafaela, que também é Silva no sobrenome, assim como milhões de brasileiros. Depois da segunda-feira dourada, Rafaela pode ser também sinônimo de superação, determinação, garra, disposição, foco, força e fé.
E o desabafo contra os racistas veio como uma provocação, dourada. “Hoje eu só posso falar que a macaca que devia estar na jaula em Londres é campeã olímpica em casa, e não fui uma vergonha para a minha família”. Foi assim que a judoca Rafaela Silva desabafou logo após conquistar a primeira medalha de ouro para o Brasil na Rio 2016. Em 2012, ela foi vítima de insultos racistas pelas redes sociais logo após ser desclassificada das disputas na Olimpíada de Londres por dar um golpe de perna ilegal na adversária.
Pra resumir, Rafaela é guerreira, assim como milhões de brasileiros que envergam, mas não quebram nunca. Que o ouro conquistado por ela sirva de exemplo para os jogadores de futebol, grupo que até agora só decepcionou, seja pela falta de vontade, seja pelo excesso de estrelismo. E na noite desta quarta-feira faz um jogo decisivo contra a Dinamarca, que pode até significar o adeus à chance de chegar à primeira medalha de ouro.
Isso seria um vexame capaz até de encobrir o brilho dourado de Rafaela.
Frase:
Não sei dizer se era uma pedra ou um tiro. Poderia ser uma pedra. Poderia ser um tiro…
Artur Zhol, jornalista da da Pressball, de Belarus, um dos machucados, no suposto ataque a um ônibus que transportava jornalistas
JOGO RÁPIDO
ATAQUE A ÔNIBUS 1
- Um ônibus que transportava jornalistas foi atingido por dois objetos na noite desta terça-feira (9), por volta das 19h45, quando estava a caminho do Parque Olímpico da Barra da Tijuca. O veículo saiu de Deodoro e, quando passava pela região de Curicica, na zona oeste da cidade, duas janelas foram quebradas. Ainda não há informação sobre o que causou o estilhaço. Policiais revistaram o interior do ônibus e disseram se tratar de pedras, não de balas perdidas. Os passageiros, porém, falam em balas de pequeno calibre. No momento em que o incidente aconteceu, os passageiros se jogaram ao chão. Dois deles sofreram ferimentos leves. Um jornalista de Belarus sofreu cortes pequenos na mão. Outro, um voluntario, sofreu um corte no braço.
ATAQUE A ÔNIBUS 2
- Artur Zhol, de Belarus, se mostrou receoso. “Uma coisa é quando acontece com outras pessoas e você só ouve falar. Outra coisa é quando acontece com você, você presencia algo assim. Não sei como vou fazer para continuar cobrindo essa Olimpíada”, completou o jornalista. Órgãos de segurança admitem a agressão, mas não confirmam se foi um tiro. Eles cogitam a possibilidade de ter sido uma pedra ou bala perdida. Após o ataque, os militares escoltaram o veículo atingido e outro ônibus que vinha atrás dele. Um comitê de crise formou-se para analisar o caso. A Polícia Federal foi a primeira força policial a entrar na investigação.
GRANDE CONQUISTA
- O mesatenista da equipe de São Caetano do Sul, Hugo Calderano, é o brasileiro com a melhor marca no Tênis de Mesa em Jogos Olímpicos ao lado de Hugo Hoyama. O atleta conseguiu o feito histórico ao bater o oponente Tang Peng, de Hong Kong, por 4 a 2 (8/11; 14/12; 11/7; 4/11; 12/10 e 11/7) na terceira rodada da competição das Olimpíadas do Rio de Janeiro no último domingo (7/8) e conquistar vaga para as oitavas de final. “Esse feito é muito importante, não só para mim, mas também para o tênis de mesa brasileiro. Acho que, talvez, estamos vivendo nossa melhor fase, Conseguir chegar longe assim, já foi uma grande conquista”, destacou.
A MEDALHA É DE OURO, MAS NEM TANTO
- Medalhas. É com elas que sonham os cerca de 10,5 mil atletas de 2016 países que participam da Rio 2016. Colocar uma no peito, seja de ouro, prata ou bronze, significa coroar anos e anos de treinamento, sofrimento e dedicação, pois são o símbolo máximo na vida de um esportista. Para os Jogos Olímpicos do Rio foram encomendadas 2.488 medalhas, das quais 812 são de ouro. Mas quanto vale, em dinheiro, uma medalha dourada? Para fazer o cálculo, é preciso considerar sua composição, atualmente 92,5% de prata, 6,16% de cobre e apenas 1,34% de ouro. E cada uma deve ter pelo menos 6 gramas de ouro 24 quilates. As da Rio 2016 pesam aproximadamente 500 gramas, e seu valor está em torno de US$ 600, de acordo com estimativas do Conselho Mundial do Ouro. As últimas medalhas feitas inteiramente de ouro foram entregues na Olimpíada de 1912.
NOITADA CUSTA CARO PARA GINASTA HOLANDÊS
- Uma das esperanças de medalha da Holanda na Rio 2016, o ginasta Yuri Van Gelder virou notícia antes mesmo de participar da final da Ginástica Artística. Ele se classificou para a disputa da medalha de ouro no sábado (6) e resolveu comemorar em uma bela noitada na Cidade Maravilhosa, mas se excedeu e irritou os membros do Comitê Olímpico Holandês. Mesmo sendo uma das maiores esperanças de medalha do país, acabou cortado da delegação. A notícia caiu como uma bomba entre os holandeses, pois Yuri é um dos grandes nomes do esporte holandês, que acabaram divididos nas redes sociais. E, assim como no Brasil, se divertiram muito com a notícia e criaram vários memes com a situação, praticamente todos eles remetendo a bebidas.
BRONZE NO JUDÔ, BELGA VAI PARAR NO DP
- O judoca belga Dirk Van Tochelt conquistou a medalha de bronze na segunda-feira (8), mas no mesmo dia foi parar na delegacia, depois de se envolver em uma briga com um recepcionista de hotel em Copacabana. Segundo a polícia, o judoca disse que tentou invadir o hotel atrás de uma garota de programa que teria furtado seu celular. O recepcionista, por sua vez, declarou aos policiais que atenderam a ocorrência que deu um soco no belga depois que foi puxado pelo colarinho. O golpe atingiu o olho esquerdo de Van Tichelt, que foi encaminhado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Copacabana, onde foi medicado. De lá, foi levado ao 12º Distrito Policial (DP), onde o registrado o Boletim de Ocorrência.
* Wilson Moço é jornalista, com passagens pelos jornais Diário do Grande ABC nas funções de repórter e editor-assistente de Esportes, de Política e de Setecidades, além de redator da Primeira Página; Gazeta Esportiva, como chefe de reportagem e editor-assistente; Bom Dia ABCD, como editor; ABC Repórter, como editor; e Revista Livre Mercado, como editor-executivo, além de atuar na Secretaria de Comunicação das Prefeituras de Santo André e São Bernardo. Contatos com o autor e colunista pelo e-mail
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