* Sueli Bravi Conte – Quando a pandemia começou no Brasil e todos precisamos nos isolar em nossas casas, ninguém imaginou que ficaríamos reclusos por tanto tempo. Boa parte das escolas particulares se articularam e providenciaram para que o ensino à distância fosse estabelecido o mais breve possível. Em alguns casos, as plataformas já estavam prontas e a transição foi realizada praticamente de imediato.
Até então, só se aplicava o EAD no Ensino Superior. Os professores do Ensino Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio precisaram se adequar, instantaneamente, a uma nova realidade. Não teriam mais os alunos em sala de aula, não poderiam mais explorar a lousa, nem fariam mais as dinâmicas às quais estavam acostumados. Todo o cronograma e planejamento didático precisou ser adaptado, do dia para a noite, para o ambiente digital. Além de exercitar a criatividade, também foi necessária uma rápida familiarização – tanto da parte dos professores como, também, pelas crianças – com os dispositivos e ferramentas disponíveis no universo virtual.
Os alunos também precisaram se acostumar a outros aspectos dessa nova realidade, jamais imaginada. Em vez de ir à escola, encontrar os amigos, assistir aulas, participar do recreio, fazer atividades em grupo e retornar para casa, passaram a fazer tudo em frente à tela do computador ou tablet. Apesar de estarem todos reunidos em uma mesma ‘sala online’, a sensação de solidão se estabeleceu e cresceu. Ainda precisaram vencer o desafio de concentrar a atenção nas aulas e driblar todas as distrações que pode haver em casa, como os pets circulando, a televisão ligada, os pais conversando ou trabalhando e os irmãos mais novos brincando.
É claro que tudo isso traz impactos para o aprendizado. Os alunos naturalmente mais concentrados, que contam com a colaboração da família, conseguiram separar um ambiente adequado para assistir as aulas online, fazer suas tarefas e estudar, seguiram em frente sem grandes problemas. No entanto, aqueles que normalmente precisam de um empurrãozinho e demandam mais atenção por parte dos professores e, logo, da presença física, mas não puderam receber um suporte em casa – pois nem todos os pais ou responsáveis conseguiram ficar disponíveis e presentes para supervisionar as atividades – claro, sentiram um pouco mais.
Para atender os alunos que manifestaram dúvidas ou que demonstraram dificuldades no entendimento e assimilação de algum conteúdo, os professores se mantiveram disponíveis, online, para prestar auxílio. Em casos mais críticos, o aluno era convidado, de forma particular, a comparecer à escola para um reforço pessoalmente, seguindo as normas de higiene e distanciamento.
Além de toda a atenção dispensada ao lado pedagógico, também há uma enorme preocupação com o lado emocional das crianças e dos jovens, que se viram privados do convívio com os amigos e professores por um período muito maior do que o habitual e o esperado. A troca que ocorre entre eles em sala de aula e durante as atividades é extremamente importante para o desenvolvimento de cada um em diversos aspectos. É em grupo, especialmente, que aprendemos e desenvolvemos empatia, que apreciamos a diversidade e, acima de tudo, respeitamos os outros e as diferenças existentes entre as pessoas.
Quando a criança se relaciona com outras pessoas, além do ambiente familiar, o resultado é extremamente positivo. Em um trabalho conjunto, realizado entre escola e família, é possível reforçar na criança a sua própria identidade, ajudando-a a entender quem ela é, quais os seus pontos fortes e fracos e, até mesmo, orientando quanto a identificação e como lidar com os mais variados sentimentos.
Com o retorno das atividades presenciais, foi impressionante ver o brilho nos olhos de cada um, a alegria por voltar ao ambiente escolar, a reenergização de cada aluno no encontro com os amigos e a gana por aprender mais, agora com o professor e a lousa à frente, fisicamente, de novo.
* Sueli Bravi Conte é educadora, psicopedagoga, mestre em Neurociência, mantenedora e diretora do Colégio Renovação, instituição de ensino com mais de 35 anos de atividades e que atua da Educação Infantil ao Ensino Médio
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